Edição nº 1863 - 2 de outubro de 2024

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

A MINHA VIAGEM DE REGRESSO DE FÉRIAS, uma viagem de quatro horas, foi quase toda ela acompanhada por uma banda sonora que me distanciava dos noticiários das rádios, das guerras, dos males que atravessam Portugal e o Mundo. E nada melhor que uma playlist da Spotify. Esta que me acompanhou na viagem, foi criada para mim pela própria Spotify. O algoritmo da plataforma de streaming de música conhece-me melhor, quanto a gostos musicais, do que uma grande parte dos meus amigos. E é confortável para qualquer preguiçoso, entregar-se nos braços de um algoritmo, que nos poupa o trabalho de escolher as músicas que vão fazer parte da playlist. O algoritmo teve em atenção meus gostos musicais ecléticos, juntando em quatro horas, música de vários estilos e épocas. E se quisesse passar por cima de alguma, não encontraria mais que três ou quatro. Diria que acertou na muche.
Mas esta é a visão cor-de-rosa dos algoritmos, que são a base da Inteligência Artificial (IA). Permitem às máquinas aprender com grandes volumes de dados, identificar padrões e tomar decisões. Mas não há bela sem senão. Na visão mais pessimista, mais negra, a IA pode ser vista como arma de destruição maciça, como titula o Público de segunda-feira, referindo alertas de ex-técnicos de empresas de ponta ligadas ao desenvolvimento da IA que, em abaixo assinado, dizem acreditar no potencial desta tecnologia, que pode proporcionar benefícios sem precedentes à humanidade, mas que se sentem no dever de alertar para os graves riscos que estas tecnologias representam e que vão desde o aprofundamento das desigualdades existentes, à manipulação e desinformação, até à perda de controlo de sistemas autónomos de IA, resultando potencialmente na extinção humana. E eles sabem bem do que falam.
Historiador, investigador e professor de História do Mundo na Universidade Hebraica de Jerusalém, autor de obras de referência como Sapiens e Nexus, lançada por estes dias em Portugal e que aborda o tema das redes de informação e da IA, Yuval Noah Harari em entrevista ao suplemento Ípsilon de sexta-feira passada, apontava alguns dos benefícios, como o desenvolvimento de veículos de condução autónoma, na medicina ou na crise climática por exemplo. Não defende que se pare o desenvolvimento da IA (tal seria impossível), mas faz um alerta às democracias para a necessidade de uma urgente regulação. Diz ele que se deixarmos os algoritmos à solta na praça pública pode levar à destruição da sociedade democrática, porque na IA, estamos a carregar no acelerador com toda a força e ninguém sabe como carregar nos travões. E aponta como as redes sociais, Facebook, o X (antigo Twitter), Tik Tok ou Youtube, apenas para referir as mais populares, minaram os fundamentos da democracia. Pediram aos seus algoritmos que fizessem aumentar a participação dos utilizadores, porque dessa forma ganhariam mais dinheiro. Os algoritmos descobriram, por conta própria, que se dessem maior visibilidade a teorias da conspiração estapafúrdias, notícias falsas e coisas do género (como o dos haitianos a comerem os gatos e cães de estimação dos americanos...), os utilizadores ficavam mais tempo nas plataformas e partilhavam esses conteúdos com os amigos.
E é por isso que a IA é tão perigosa: cada vez menos é uma ferramenta, é um agente que pode tomar decisões independentes.

02/10/2024
 

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