Edição nº 1875 - 25 de dezembro de 2024

Elsa Ligeiro
OS LIVROS QUE LI EM 2024

“Os Desarçonados”, de Pascal Quignard, numa edição da “Cutelo”, em junho de 2024, foi o livro mais estimulante que li este ano e o qual recomendo sem reservas.
Um livro antigo na obra de Pascal Quignard, autor de uma escrita sem género que muito aprecio; mas só editado este ano em Portugal, com uma tradução de Diogo Paiva.
Em setembro, na Casa Fernando Pessoa, na celebração do 25.º Aniversário da Alma Azul, chamei a atenção para um livro de Luísa Costa Gomes (que tinha acabado de sair e que corri a ler) recomendando-o sem reservas a todos os presentes.
Não imaginava nesse dia que, após três meses, esse livro fosse considerado pelos críticos literários dos jornais “Expresso” e “Público”, como o melhor livro do ano de 2024.
Luísa Costa Gomes é uma autora que alia o humor a uma narrativa brilhante que tem como cenário a realidade portuguesa. E num país a comemorar 50 anos de revolução, “visitar amigos”, livro de contos, surge como uma leitura obrigatória para quem os livros não são apenas uma boa maneira de passar o tempo.
Se ainda tem prendas de Natal para comprar, corra à livraria mais próxima, e não hesite em oferecer: “visitar amigos” de Luísa Costa Gomes. Até a capa é bonita, e a edição é das Publicações D. Quixote.
Para quem passa a vida a percorrer Bibliotecas Municipais de norte a sul do país, promovendo a Leitura e autores de Língua Portuguesa, muitas das escolhas estão relacionados com o trabalho; e, em março, comprei a correr (e li numa noite) “A Desobediente – Biografia de Maria Teresa Horta”, de Patrícia Reis, pois no dia 8, Dia Internacional da Mulher, estava na Soalheira, no Pólo da Academia Sénior do Fundão, a Conversar sobre a Liberdade conquistada em Abril de 1974, e, como sabem, Maria Teresa Horta contribuiu para a conquista dessa Liberdade em Portugal.
Reli mais tarde, de fio a pavio, o livro, para, no mês de abril, conversar com a autora Patrícia Reis, no programa mensal “Há Poesia no Jardim”, da Biblioteca Municipal de Beja.
Voltei a reencontrar Patrícia Reis na Maratona de Leitura na Sertã, em julho; e desta vez acompanhada por Joana Meirim, autora do livro “As Três Marias”.
Joana Meirim ofereceu-me na Sertã o seu novo livro, publicado em abril: “Uma Carta à Posteridade – Jorge de Sena e Alexandre O´Neill”, obra vencedora do Prémio de Ensaio da Imprensa Nacional/Vasco Graça Moura 2022.
Um ensaio que devorei com a paixão que me move na relação com os dois autores.
Acresce que Alexandre O’Neill nasceu a 19 de dezembro de 1924, e cujo centenário tenho celebrado em vários pontos do país, sempre em Bibliotecas Municipais.
“A Desobediente” é uma biografia escrita por uma jornalista, mas também escritora, e isso nota-se, para bem da biografia e da biografada.
A edição é da Contraponto, que, em junho, lançou: “Fortuna, Caso, Tempo e Sorte – Biografia de Luís de Camões”, de Isabel Rio Novo. Setecentas e vinte oito páginas, algo excessivas, mas que li com agrado.
Novidades sobre a vida de Camões não há, e à falta de documentos que provem qualquer realidade, o especulativo acaba por se transformar num jogo de dedução que Isabel Rio Novo pratica dentro do razoável.
Da Contraponto, ainda reli, no início do outono, a biografia de José Cardoso Pires. “Integrado Marginal” é uma das melhores biografias da coleção, onde o autor, Bruno Vieira Amaral, bom escritor, se revela como um informador de confiança.
Gostei mais da segunda Leitura do que da primeira, talvez porque o meu trabalho nas manhãs luminosas do verão de 2024 fosse a de ler a obra completa de José Cardoso Pires, e, entre romances e contos relidos, a biografia surgiu como o culminar de uma aproximação a um homem que o cineasta Fernando Vendrell, em “Sombras Brancas” trata como irascível, transformando Edite, a esposa, na verdadeira heroína do filme.
Na biografia, a infância e as aventuras de juventude relatadas com esmero por Bruno Vieira Amaral dão um contexto adequado ao “feitio particular” de José Cardoso Pires.
Passei o verão inteiro com os livros de José Cardoso Pires, ainda longe de imaginar a surpresa que teria no dia 7 de dezembro, na Biblioteca Municipal da Covilhã, na homenagem ao editor António Alçada Baptista; quando a sobrinha Isabel, nos contou, com especial graça, uma história vivida com a prima Inês, na Casa do Salto do Lobo, na Serra da Estrela, onde José Cardoso Pires se isolou para a escrita de “O Delfim”.
A história é absolutamente deliciosa, e vou guardá-la para a partilhar nas Bibliotecas Municipais que acolherem a “Sessão Literária: Excelentíssimo José Cardoso Pires”, em 2025.
Sessão Literária que celebrará o centenário do nascimento de um dos autores mais relevantes da Literatura Portuguesa do Século Vinte; nascido no dia 2 de outubro de 1925, na aldeia de São João do Peso, em Vila de Rei, na Beira Baixa.

24/12/2024
 

Em Agenda

 
02/08 a 26/10
Barro e AlmaMuseu Francisco Tavares Proença Júnior, Castelo Branco
08/10 a 02/11
ImpressõesCine-Teatro Avenida, Castelo Branco

Gala Troféus Gazeta Atletismo 2024

Castelo Branco nos Açores

Video