Edição nº 1849 - 19 de junho de 2024

Lopes Marcelo
VERDADE E COERÊNCIA?

O subtítulo desta crónica em jeito de comentário dos factos da actualidade, bem podia ser: CARTA ABERTA AOS DEPUTADOS ACTUAIS E AOS QUE TERMINARAM AS SUAS FUNÇÕES RECENTEMENTE tomando como referência o nosso Distrito.
É bastante frequente surgirem nos meios da comunicação social regional e local artigos subscritos por esses nossos concidadãos com apreciações críticas sobre a nossa realidade política económica, social e cultural bem diferentes das posições que tomaram enquanto exerceram as suas funções de representação na Assembleia da República.
Sublinho de representação dos eleitores numa preocupação de clareza dos conceitos. De facto, recorrendo ao velhinho Dicionário da língua Portuguesa de Augusto Moreno, encontramos que deputar significa: delegar, incumbir, mandar em comissão. Ora, quem delega, quem manda em comissão, tem direito a ser informado sobre a efectiva execução da missão que incumbiu a alguém, dos seus valores e acções concretas, bem como no final merece que lhe sejam prestadas contas sobre o que foi realizado.
Por missão, entenda-se o programa eleitoral, as propostas, os objectivos e as obras que se comprometem a realizar no território; apresentado com pompa e circunstância pelos partidos políticos sob o desígnio de progresso e desenvolvimento das nossas terras, combater o despovoamento e o abandono, valorizar os nossos recursos, reduzir as assimetrias e as desigualdades no país cada vez mais inclinado para o mar. Programa e missão assumida por pessoas certamente cheias de boas intenções. Contudo, o que realmente importa e serve para avaliação é o resultado final de tais programas traduzido na realidade do nosso território do interior. E a realidade é cada vez mais evidente: despovoamento, abandono de terrenos excepto grandes áreas de plantações intensivas, escassez de água com os cursos de água sem limpeza e protecção dos leitos que se traduz em erosão dos solos com processos de desertificação a germinar, áreas de árvores (sobretudo grandes manchas de pinhal de geração espontânea) sem ordenamento e gestão florestal, designadamente sem asseiros e arrifes nem limpeza adequada propiciando épocas sucessivas de incêndios, a A23 com o seu permanente efeito de túnel e as portagens que não tem contribuído para o desenvolvimento dos territórios que atravessa.
Para alguns, fartos destes temas e, ou, fechando os olhos à realidade, pensarão que não há nada a fazer. Contudo, todo este processo não é uma fatalidade ou destino nem acontece por acaso, não são indiferentes as políticas de intervenção ou a falta delas. Se houvesse verdade e coerência e, pelo menos metade do que consta nos programas eleitorais fosse cumprido, seria bem diferente a realidade. Refiro um exemplo: existe o PRR – Plano de Recuperação e Resiliência com mais de dezasseis mil milhões de Euros. Existe uma Estrutura de Missão Recuperar Portugal. E o que se constata é que na zona de Lisboa a verba afectada é cento e cinquenta vezes maior do que para o interior. Em termos médios, o desequilíbrio entre o litoral e o interior é de sete vezes a nosso desfavor. Onde está o voluntarismo e a discriminação positiva a favor do interior de que os programas eleitorais e os candidatos a deputados tanto falam em campanha? Candidatos que são escolhidos pelas estruturas centrais e regionais dos partidos, dentro da família dos interesses partidários e assim continuará a ser enquanto não existirem círculos eleitorais uninominais em que os eleitores no acto de votar/ de delegar, poderão escolher o nome do deputado/a e, mais tarde, responsabilizá-los. Neste contexto, acontece de forma geral aos candidatos eleitos assumirem-se mais obedientes representantes dos seus partidos, do que efectivos representantes dos eleitores. Se enfiam a carapuça que bem entendem e até lhes saberá bem enquanto desempenham as funções que a mantenham de forma responsável. É que, terminadas as funções virem assumir ingénuas narrativas críticas como se nada tivessem a ver com o que se passou enquanto exerceram funções, é que não fica bem, ilude os eleitores e não é um contributo de verdade e de coerência para a representação democrática.

19/06/2024
 

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