Antonieta Garcia
SÉCULO XXI: O REGRESSO DOS DITADORES?
Pobres senhoras, as que deram ao mundo embusteiros que ninguém adivinhava que iriam escolher caminhos que percorremos e hoje sabemos. A Mãe perdeu-se no encantamento de dar à luz. Acreditava, jurava a pés juntos que o filho havia de salvar o planeta de danos, da guerra e da fome. Não se cumpriu a profecia, nem os desejos. Que é da luz que iluminava a Amizade, a Solidariedade? Certamente, como qualquer criança, os meninos conviveram com companheiros.
Já então, os temas de conversa que os entusiasmavam, versavam as brigas, lutas, as discórdias, os conflitos. Sabiam os diferentes modos de contenda, aprendiam a esmagar com força as crenças humanistas de um mundo melhor a haver. Muitos acabarão, afinal, por integrar uma linhagem de poderosos onde figuram Francos, Hitlers, Salazares, Mussolinis... e outras cabeças que semeiam crueldade e mãos cheias de diabos. Quem aniquila o terror nascido do conhecimento das atrocidades, de torturas presentes em combates infindos? Neste contexto, a morte, às vezes, é sorte.
Mal vai a quem se cruza com os Senhores da Guerra que se reproduzem seguindo o velhíssimo lema: “Posso, quero e mando”. Os peritos da Guerra estão armados e matam com o mesmo à vontade com que arruínam cidades e trucidam povos! Vieram ao mundo afagando armas infalíveis que abatam quanto mais depressa, melhor.
Ainda há gente assim? Duvida-se, hesita-se, mas vivemos um tempo em que se teme o regresso da barbárie no seu pior despudor. Nuclear é a palavra senhora das trevas pressagiando a possibilidade de repetir pior do que Guernicas, Nambuangongos... Donos da morte, aperfeiçoam, ao longo dos séculos, os modos de exterminar mais em conta, experimentando novíssimas estratégias e mortíferos artefactos... Ainda não secaram as lágrimas que combates anteriores provocaram e o corpo dorido vergou, arde, ferido de tantas tormentas.
Caminhamos por encruzilhadas em demanda de rumo amigo. As veredas multiplicam-se, a realidade é complexa e perdem-se afetos, tantos quantos os que se soltam das mãos em busca de mágoas que desafiam muitos a responder à chamada, a resistir.
E tudo volta ao princípio! Quem são os doidos varridos?
Cheios de poeiras de África, de sirenes, de bombas... como descobriremos a concha que é ninho e ensina a construir espaços oníricos com recantos escolhidos para a Vida?!!
Ouçam como os ecos do vento nos contam narrativas que transportam em tapetes de feiticeiros. E há árvores, aves e espelhos de água, cafés e esplanadas, parques infantis que se desdobram em luz, em lugares de esperança que resgatam o ânimo...
Já se abrem arcas interiores, onde a nostalgia do “antigamente” passeia vaidosa. Em que direção avançam? Ditadores e apaniguados querem reinventar o apocalipse?
A sintaxe, enviesada, agarra-se a acenar com sujeitos velhos que se tornaram velhos fantasmas. Deus nos livre de tiranos sejam eles quais forem. Na verdade, o despotismo desvia-se a seu belo prazer, ora para a direita, ora para a esquerda... torce-se... e escorrega em rumos de perdição.
Os caminhos que escolhem são sinuosos, ondulantes. Os todo-poderosos fogem à democracia, ao diálogo; como o diabo da cruz; tergiversam... arrastam pavores, agonias, escuridão.
Em suma recordo palavras de Einstein: - Era tão bom que criassem guerras e que não fosse lá ninguém! – E acrescenta: A próxima guerra não sei como será, mas a seguinte será à pedrada!
A caixa negra das nossas vidas revela que dos beirões educados na tradição da honra, ao longo da História, sempre emergiram valentes gloriosos... ajudando a criar um mundo melhor. E agora, que faremos, se e quando for necessário?
Acendam-se lampadários. Precisamos tanto de luz!