Antonieta Garcia
BONÉS:
- Juro pela pala do meu boné, se isto assim não é!
Serão poucas as pessoas que seguram um juramento deste jeito; desvela mesmo uma pontinha de ironia, no emissor; eleitos os argumentos, por alguma razão quem assim fala, estará na berlinda.
A jura invocada funciona como um faz de conta, a alarga-se à expressão “anda a apanhar bonés” O emissor sorri-se de si, porque suspeita/sabe que não alcança o que quer, não terá êxito; tendencialmente, palmilha a vida com pouco dinheiro. Subjaz, porém, uma crítica implícita, garante de um estatuto que compromete um qualquer desalentado emissor/recetor. Porque veio à baila o boné?
Sei lá! Há cânones que demarcam o uso de cabeças tapadas ou nuas... Que vozes de estilistas serviram a deuses, quando foram traçando preceitos capazes de reproduzirem princípios divinos, vaidades, orgulhos e preconceitos?... Tontices.
Por certo, evangelistas e outros senhores da Palavra, em nome do Pai, adotaram frases identitárias, distinguindo os usuais cabelos soltos, encaracolados e apanhados, curtos e compridos, seja no masculino, seja no feminino. A linguagem adotou disposições várias, serve inúmeras situações incluindo festas que mostram as cerimoniosas cartolas, togas e becas, indumentárias académicas...sem esquecer o enfeite das peninhas no(s) chapéu(s)... Do garruço ao carapuço vai um passado arcaico longo, para ambos os géneros. Recusar enfiar o barrete aprende-se e adota-se, se a mestria valer a pena...
E o boné? Com sucesso incomparável, o boné escalou caminhos e elegeu uma boina para seu par... Ambos tapa-cabeças, embelezados, viriam a bailar e nem demorou a passadinha de pardal a marcar o chilrear feliz com o véu do casamento “(...) meu amor disse que eu tinha / na boca um gosto a saudade.” ... Neste contexto, foram tradicionalmente felizes e inventaram muitos modelos...
O par boné e a boina vivem, até ver, uma ligação apetecível; descobriram vocações, divulgaram desportistas, jogadores, finórios, pintores convencionais... escolheram-no como uniforme, como símbolo... Para a cultura jovem ganhou, ao longo dos tempos, o código e estatuto de moda.
Adereço muito popular mora há gerações e gerações na crista da onda, porque perito em identificar personalidades de todas as idades e estilos. Protege do sol, cobre o topo da cabeça, é ajustável na parte de trás, adaptando-se ao tamanho da cabeça do usuário... cada forma com o seu esmero.
O que não estava profetizado era que a importância que corre sem parar de cabeça para cabeça, desde que a seleção escolheu um boné vermelho, enturmou uma série de criaturas criando coros e choros de apanhar bonés! O baile do vermelho com o branco vulgariza o sabor do compasso:” Make America Great Again”.
É um plano cheio de sucesso? Todos os companheiros que o são, usam o boné, mesmo quando enrija e estrangula ideias; o acessório oferece uma infinidade de opções, abriu portas a outros desígnios, mulheres também aderiram e, pela calada, como quem não quer a coisa, foram alterando feitios de boinas e bonés que aperaltaram múltiplos interesses.
Signos identitários com percursos parecidos os bonés são o que se sabe! As frases feitas e cheias de saberes publicam-se ou ocultam-se, quando convém.
As histórias de bonés deixam, muitas vezes, às aranhas as personagens das narrativas. Razão por que “estar a apanhar bonés” pode significar estar desorientado; já “ficar a apanhar bonés” revela que o emissor e o recetor não triunfam.
A história das boinas, como a dos bonés, vê-se, hoje, em toda a Europa. O vermelho e o branco são ainda os protagonistas, noutros continentes. Para quando, usar todas as cores, pacificar a guerra, a violência, a crueldade, o desespero? Que fazemos, em nome da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade...? Era tão bom que todos se recusassem a participar na barbárie que quer regressar “com pezinhos de lã” ...