18 junho 2014

Maria de Lurdes Gouveia Barata
METEM-SE OS PÉS PELAS MÃOS PEQUENAS CENAS DA VIDA PORTUGUESA

«Eu votei no Governo, não votei no Tribunal Constitucional» - voz de opinião pública ouvida na rádio um destes dias. Opinião praticamente anónima numa voz apoiante da governação em curso, apresentando-se com o desconhecimento de quem não distingue Governo de Instituições. E metem-se os pés pelas mãos… Cortar a direito é difícil, quando se defendem partidos como clubes de futebol, pois, mesmo zurzidos por sacrifícios que não eram imagináveis há três anos, é preciso apoiar o clube. A verdade é que nem sempre é o clube que está em causa, mas os dirigentes de determinada época… E metem-se os pés pelas mãos…
No dia a dia deste Portugal, que estremece com mais limitações advindas de medidas para cortar a crise, progressivamente se perde o pé ou se fica atado de pés e mãos por um medo que vai invadindo o quotidiano, medo de perder o emprego, medo de não poder fazer face às despesas diárias, medo de não conseguir responder a compromissos assumidos em tempo que conscienciosamente se podiam cumprir (não foi viver acima das possibilidades, também aqui se metem os pés pelas mãos), medo já de falar, pois os despedimentos tornaram-se mais fáceis por mais facilmente justificáveis.
Se não houvesse guardiões da Constituição, respirava-se pior e o Tribunal que a defende aureolou-se de fonte de esperança para os portugueses. Mas, cuidado, há nuvens de ameaça, afinal os juízes desse Tribunal desiludiram um partido do Governo em que existe a voz de Teresa Leal Coelho a «admitir sanções jurídicas nos casos em que os poderes são extravasados» (e isso seria cortar a direito, admito). A questão é que os poderes extravasados parece que apenas são os que contrariam as medidas do Governo. Os juízes não desiludiriam, se estivessem mancomunados com os governantes, permitindo infracções de princípios constitucionais. E metem-se os pés pelas mãos…
Tempos difíceis! Até aparece a Directora Geral do FMI a alertar para os riscos financeiros que provoca a longevidade: medidas urgentes precisam-se, porque os idosos vivem demasiado tempo, tornando-se um risco para a economia global. Como é que Christine Lagarde ainda não aconselhou cursos de formação em Kamikase para idosos, levando-os a amar a autodestruição em prol da segurança financeira? Metem-se os pés pelas mãos…
Tempos difíceis de vozes dos contadores de histórias de desemprego dos jovens, histórias de familiares e amigos, todos os dias… E o humor português em tempo de crise traz a pequena esperança: os jovens licenciados têm já três saídas possíveis: por terra, por ar e por mar. Uma voz mais pessimista e realista diria que os jovens licenciados ficam por terra, ou vão ao ar, ou mergulham neste mar e afogam-se. E metem-se os pés pelas mãos…
Não resisto, porém, a uma outra cena: no exame nacional de 2º ciclo, 6º ano de escolaridade, punha-se a seguinte questão (de que vou apresentar a parte que interessa): Da frase Os gregos tinham partido para a Grécia (…), transcreve um verbo auxiliar. Esclarecimentos do IAVE para corrigir: Tinham-ter (está correcto e tem dois pontos; ter-tinham (está incorrecto e tem 0 pontos); tinham partido (está correcto e tem 2 pontos); o verbo auxiliar é «tinham» (está correcto e tem 2 pontos); o verbo auxiliar é «ter» (está incorrecto e tem 0 pontos).
Fiquei sem pé e de pé atrás com os fazedores, porque isto não tem pés nem cabeça e fico certa de que os autores devem ser medidos dos pés à cabeça. Não tenho espaço de análise (mas deixo a todos a tarefa, que é fácil, é só prestar atenção a algumas respostas a que será atribuída a cotação 0), estamos a falar de uma chave de correcção para alunos de 6º ano… E metem-   -se os pés pelas mãos…

18/06/2014
 

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