24 de agosto de 2016

Fernando Raposo
ATÉ AO PRÓXIMO VERÃO

Sob o calor intenso de Agosto, que insiste teimosamente em não dar tréguas, o país vai sendo consumido pelas chamas. Nunca, em tão pouco tempo, tantos hectares de floresta, casas, e o esforço de tantas vidas de trabalho se perderam.
Os discursos são iguais aos tantos e tantos dos anos anteriores e enquanto as primeiras chuvas do Outono, que tardam em chegar para acalmar a força das labaredas, as promessas repetem-se até à exaustão.
Na boca dos especialistas, o diagnóstico está mais do que feito e as respostas para os problemas parecem estar ali, ao virar da esquina, mas quando as chuvas de Outono e de Inverno nos derem descanso, já todos se esqueceram, pelo menos até ao próximo Verão, de mais um Verão que agora termina.
E, entretanto, enquanto as chamas deambularam ao sabor dos ventos, a política espaireceu de mansinho, acordando agora sob arrufo de alguém mais empertigado e que desdenha do país que somos. De alguém que se queixa por ter sido invertido, com diz Jerónimo de Sousa, “o caminho de declínio e retrocesso imposto pelo anterior Governo” (citado pelo Público, 20 de Agosto).
Apesar de a economia não estar a crescer, segundo os dados do 2º trimestre deste ano, o desemprego está a diminuir. No último semestre, o desemprego diminui significativamente e o número de desempregados inscritos nos centros de emprego fixou-se em Julho último abaixo dos 500 mil, o que não acontecia desde 2009.
Os vencimentos dos funcionários públicos têm vindo a ser repostos, o salário mínimo aumentou, embora o valor máximo anunciado (600 euros) só seja alcançado no último ano da legislatura. O horário das 35 horas foi reposto e a tarifa social é hoje atribuída a um maior número de portugueses.
Os portugueses têm agora maior rendimento disponível, embora não ao ritmo que todos desejaríamos. Depois de 4 anos de cortes e aumento de impostos - quem não se recorda da afirmação do ministro das finanças de então, Victor Gaspar, sobre “o enorme aumento de impostos” – não era possível, nem seria expectável, que a recuperação de rendimentos fosse feita de uma só vez e em tão pouco tempo.
Apesar do desempenho da economia ter abrandado, conforme dados apurados até Junho, em consequência da fraca procura interna, portanto também em função do menor consumo dos portugueses, talvez isso possa ser explicado, por um lado, pelo gradual e ainda ténue aumento dos rendimentos e, por outro lado, pela prudente preocupação em acautelar algumas poupanças.
Estou em crer, que logo que sejam apurados os dados sobre o consumo interno no trimestre de Julho a Setembro, coincidente com os meses de férias, “a trajectória de desaceleração da economia” inverter-se-á.
O consumo, só por si, não será uma variável suficiente, mas associada ao investimento, público e privado, necessariamente útil, serão determinantes para o crescimento duradouro da economia portuguesa.
Embora algumas das medidas consignadas no contexto dos acordos de incidência parlamentar com os partidos que apoiam o Governo, ainda não tenham sido implementadas, a sua concretização requer prudência, diálogo e consenso entre todos os partidos que agora configuram uma nova maioria (PS, BE, PCP e Verdes).
Estão neste caso a revisão dos escalões do IRS e a eliminação da sobretaxa, o alargamento das fontes de financiamento da segurança social, a eliminação do recurso abusivo aos estágios e aos falsos recibos verdes para fazer face a necessidades efectivas das empresas e das instituições privadas e públicas que têm condenado os jovens, muitos deles dos melhores preparados, à precariedade e incerteza.
Sendo certo que “Roma e Pavia não se fizeram num só dia” e agora que a preparação do orçamento para 2017 se avizinha, impõe-se muita prudência quanto ao tempo, modo e ritmo da implementação das medidas acordadas, sem demagogias, sob pena de se deitar tudo a perder.

24/08/2016
 

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