José Dias Pires
Quem quer colher, prepara a terra
No final do século passado, o combate ao analfabetismo foi um dos grandes desígnios portugueses.
Combater a iliteracia é o principal objetivo deste início de século e de milénio — um em cada cinco adultos alfabetizados leem voluntariamente; 10% das pessoas alfabetizadas é responsável pela leitura de 80% dos livros.
Castelo Branco não foge à regra. Contudo, pela aceitação (e participação) no que ao festival literário Fronteira concerne, provou ser (e ter) um terreno fértil para um projeto que pretenda criar uma relação afetiva com a leitura capaz de começar a inverter tais números.
O esforço do Plano Nacional de Leitura (PNL) tem sido notável. O desafio lançado a país e professores pretendia aprofundar a leitura nas salas de aula; estimular iniciativas destinadas a fomentar a leitura autónoma entre crianças e promover dinâmicas em rede coordenadas pelas bibliotecas escolares (e respetivos responsáveis) sempre que possível em articulação com as bibliotecas públicas.
Castelo Branco respondeu a todos estes desafios. E bem. De tal modo que sabendo que está hoje em condições de ir mais além, chegar onde o PNL ainda não chega.
E como?
Através de um Plano Municipal de Leitura e Escrita (PMLE). Se o PNL tem sido extremamente eficaz no desenvolvimento de uma relação afetiva com o livro e as bibliotecas, na comunidade escolar, um PMLE poderá generalizá-lo junto da restante comunidade, aproveitando para isso as dinâmicas desenvolvidas pelas instituições locais.
A afetividade é determinante, dado que se uma boa parte da comunidade se revela relutante em relação ao livro, não o está em relação à leitura (veja-se o consumo significativo de jornais diários, desportivos e de revistas de sociedade).
Em Castelo Branco, um PMLE, enquanto projeto inovador, poderá (e deverá) assumir uma atitude mais proativa do que as comuns feiras do livro ou sessões de autógrafos, assentando num conjunto diversificado de instrumentos de sedução para a leitura e a escrita.
No fundo, aproveitar muito do que são as práticas comunitárias (especialmente nas escolas e na biblioteca municipal), levando o «Livro» a todos os espaços e ambientes do domínio público, criando a sensação de que há mais momentos para apreciar a leitura do que aqueles que o leitor relutante imagina.
Um PMLE gerador de uma programação diversificada, na forma das iniciativas e nos públicos a atingir, responderá aos grandes princípios de incentivo e encorajamento à leitura e à escrita, submergindo o concelho no universo do livro, com ações que confrontem a comunidade com a presença do livro em todas as suas dimensões sociais e pessoais.
Em síntese:
Promover a leitura junto da comunidade; Combater a relutância à leitura de livros e literatura; Fomentar a leitura de livros no quotidiano da comunidade; Envolver a comunidade no esforço desenvolvido pelo PNL.
Voltarei ao tema.