9 de março de 2016

Celeste Capelo
Pequenos poderes: se queres conhecer o vilão, põe-lhe uma vara na mão

Os pequenos poderes que se propagam usando os mais diversos utensílios e materiais, modos, posições nas hierarquias, em cada gabinete, em cada espaço público ou privado, estão a tornar-se insustentáveis, pelo emaranhado de ligações político-partidárias, subserviências, faltas de compreensão das leis, quantas vezes não olhando aos contextos, autoritarismos, etc.
Segundo uma definição em psicologia o pequeno poder é uma atitude de autoritarismo por parte de um indivíduo que, ao receber um poder, o usa de forma absoluta e imperativa sem se preocupar com os problemas periféricos que possa vir a ocasionar. Revelam-se muitas vezes no excesso de burocracia no atendimento e/ou na decisão. Acontece ainda que o pequeno poder faz com que as pessoas venham a imaginar que detêm um poder maior do que as outras, chegando ao limite da patologia.
Um exemplo de utensílios ou materiais que refiro no início poderá ser um microfone que na mão de um indivíduo, pode ser utilizado para satisfazer a síndrome de um pequeno poder, se não associar a liberdade à responsabilidade.
Posições nas hierarquias e gabinetes, verificamos que cada um tem a sua “quintinha” e porque têm muitos “vidrinhos”, são intocáveis. Pequenos poderes são ali exercidos.
Faltas de compreensão das leis, e aqui refiro a lei cega, porque quem a interpreta apenas segundo a máxima “dura lex sed lex”, e, não conseguindo contextualizá-la, incorre na aplicação incorrecta da mesma.
A propósito deste último parágrafo, veio-me à ideia contar algo que eu presenciei, e obviamente me indignei, quando num serviço público há uma entrada para quem tem uma determinada senha. Uma senhora tinha essa senha, entrou, mas ia tratar de um assunto relacionado com um familiar que ficou sentado na entrada desse serviço porque se deslocava com duas muletas. No entanto no serviço ao qual se dirigia, era necessária a presença do cavalheiro que estava com dificuldade de locomoção. A senhora veio à porta por onde entrou e chamou o senhor para ir com ela. Espanto! … O senhor não podia entrar porque não tinha a senha, embora o assunto fosse relacionado com ele próprio, e não entrou. Teve de ir dar uma volta para ir ao serviço onde já tinha estado o seu familiar, que implicou sair pela rua, ainda por cima estava a chover, mas a lei, neste caso a norma, foi cumprida, mal cumprida digo eu.
Outro caso bem recente foi o lançamento do livro dos 50 anos do Orfeão de Castelo Branco. Quem lá esteve, e outros que tiveram de se ir embora, assistiram a algo, que segundo a minha opinião não tem outro nome senão ridículo. Foram embora muitas pessoas porque não tiveram lugar. Foram deslocadas cadeiras para uma sala de exposições, mas que mesmo assim não chegaram, enquanto que ao lado estava, e está, um auditório vazio durante a cerimónia de apresentação do livro.
Indaguei o porquê daquele desassossego. Uma coisa num lado e outra no outro. Fui então informada de que a lei ou a norma diz expressamente que a apresentação de livros se faz na Biblioteca Municipal e não no CCCCB. Então implicaria que o livro fosse apresentado na Biblioteca e depois o Orfeão se deslocasse para o CCCCB e aí fazer o seu concerto comemorativo, onde os antigos maestros também iriam participar. Foi emendada esta hipótese, pois também não tinha sentido nenhum, por uma solução no mínimo insólita e ridícula.
Pergunto:
Se, à cerimónia das comemorações dos 50 do Orfeão, em vez de se lhe chamar Apresentação do livro”50 anos do Orfeão de Castelo Branco” tivesse tido o nome de Concerto do Orfeão para apresentação do livro ”50 anos do Orfeão de Castelo Branco”, já teria sido possível utilizar o auditório, para toda a cerimónia?
Neste caso não era a apresentação de um livro seguido de um momento musical, como muitas vezes acontece. Era totalmente diferente. Estava tudo integrado no mesmo projecto.
Mais uma vez a máxima “dura lex sed lex” não teve a contextualização devida, nem tem pouco teve em conta que as leis/normas são interpretadas por seres humanos onde o bom senso faz sempre falta.
Não quero terminar sem fazer um elogio público à direcção do Orfeão, ao actual e anteriores maestros, aos actuais e antigos orfeonistas que não faltaram à chamada, à Sra. Dra. Adelaide Salvado e a todos os que trabalharam e apoiaram esta tarefa, que creio quão difícil e trabalhosa foi, mas, apesar do que atrás digo, creio que a dignidade desta instituição cinquentenária não ficou beliscada. Outro tanto não digo de quem teve a responsabilidade decisória do local, ou melhor, dos locais que o orfeão e o público em geral tiveram de percorrer.

09/03/2016
 

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