4 de janeiro de 2017

Alargar caminhos para o futuro da Foz do Cobrão

Numa manhã de chuva miudinha, Francisco Cargaleiro (1903-1992) partilhou com outros filhos da Foz do Cobrão um sonho que acalentava faz tempo: “temos de fazer alguma coisa por esta terra e gente que vive aqui no maior isolamento”. Mais de 50 anos depois, o desígnio deste natural da aldeia presépio, no concelho de Vila Velha de Ródão, continua a mobilizar fozenses e lisboetas em torno do mesmo “ideal de respeito pelos ancestrais, afetos familiares e amor pela natureza”, como refere o atual presidente do Grupo de Amigos da Foz do Cobrão (GAFOZ), Octávio Catarino.
A festa de aniversário do cinquentenário do GAFOZ, no dia 12 de novembro, foi disso exemplo, ao reunir com o mesmo entusiasmo inicial habitantes da terra e amigos de fora. Vindos de vários pontos do país, foram mais de cem os convivas que participaram na homenagem ao fundador, primeiro presidente e sócio número 1 do grupo nascido em outubro de 1966.
“O nosso homenageado de hoje foi pioneiro na ação mobilizadora dos amigos da Foz que em redor da Associação souberam alimentar a chama da amizade e solidariedade que está na génese do GAFOZ”, lembra Octávio Catarino, atual dirigente e sócio desde a primeira hora.
Francisco Cargaleiro inspirou dezenas de compatriotas, com grandes afinidades pela sua terra, a defender os interesses de uma aldeia que nos anos 1940 estava cercada pelo rio e serra. Os habitantes viviam isolados e com parcos recursos, na sequência da extinção da fábrica de fiação, dis- pondo apenas de um acesso de terra batida e de uma barca que ligava as duas margens do rio Ocreza. Em Lisboa, uma colónia de naturais da Foz não se conformou com a estagnação económica e isolamento a que estavam votadas as gentes da sua terra, reivindicando junto da administração central a necessidade de construir uma ponte que ligasse a Foz do Cobrão a Sobral Fernando.
“Foi assim que o homenageado  viveu a sua vida: construindo pontes e digo-o no plural porquanto Francisco Car- galeiro não se preocupou apenas em ligar as duas margens do rio Ocreza; ele foi um homem capaz de alargar o caminho”, recordou a neta mais velha do homenageado, Maria da Piedade Cargaleiro, durante a cerimónia que inaugurou os festejos.
A sua visão ampla do futuro inspirou jovens como Octávio Catarino, que ainda hoje conduz os destinos do GAFOZ, e marcou a intervenção do grupo na comunidade desde as primeiras reuniões na quinta de Francisco Cargaleiro no Monte da Caparica, em Almada. No entendimento dos fozenses, o desenvolvimento socioeconómico da aldeia passa- va ainda pela promoção das festas em Honra de Nossa Senhora da Conceição, que estavam prestes a desaparecer, através da criação de uma comissão em Lisboa que assegurasse esta tradição.
Décadas mais tarde, a força motora que ditou a génese do Grupo de Amigos da Foz do Cobrão mantém-se viva em cada um dos sócios (450, no total). O grupo continua fiel à sua génese, reivindicando para a necessidade de investimento local, mas tem um aspeto inovador que renova a dinâmica original. Segundo o presidente da autarquia, Luís Pereira, o “GAFOZ começou por ser centro de convívio, evoluindo para IPSS que promove emprego e dá assistência aos idosos, através de um centro de dia e apoio domiciliário”.O GAFOZ presta ainda apoio aos operadores turísticos que exploram as potencialidades da natureza da região.
Os filhos da Foz têm muito gosto pela sua terra e sabem que a sua maior riqueza é a água cristalina que corre no rio Ocreza e na Ribeira do Cobrão. Daí que a estratégia de valorização da aldeia e o reforço da sua atratividade económica passe pela melhoria das condições naturais que tornam esta região única. Enquadram-se, neste âmbito, os investimentos da autarquia, na ordem dos 200 mil euros, que prevêem a criação de uma nova ETAR e a construção de uma piscina fluvial nos antigos açudes, pronta a funcionar no verão de 2017.
Entre memórias do passado e projetos para o futuro, o dia-a-dia da Foz do Cobrão é marcado pelo crescente dinamismo do turismo, pelo retorno dos que aqui têm as suas raízes e pela expetativa dos que chegam em busca de um novo projeto de vida.
No aniversário do Grupo de Amigos da Foz do Cobrão, a aldeia que hoje abriga apenas meia centena de pessoas recebeu, além da atual direção, amigos e sócios do GAFOZ, os familiares do homenageado Francisco Cargaleiro, o presidente da Assembleia-Municipal de Vila Velha de Ródão (VVR) António Carmona, o presidente e vice-presidente da Câmara Municipal de VVR, Luís Pereira e José Manuel Alves, o vereador Nicolau Eduardo e o presidente da junta de freguesia de VVR, João Mendes.
A cerimónia incluiu ainda o descerrar de uma lápide em homenagem a Francisco Cargaleiro, pai do pintor e ceramista Manuel Cargaleiro.
Ana Cargaleiro de Freitas

04/01/2017
 

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