21 de fevereiro de 2018

Maria Adelaide Neto Salvado
OS BORDADOS DE CASTELO BRANCO E A CASA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE

Mais um ano passa sobre a fundação em Castelo Branco, de uma Instituição que, nos nossos dias, tão relevantes serviços presta a tantas crianças e adolescentes, dando-lhes amor e carinho, formando-as e preparando-as para a vida: a CIJE, chamada outrora Asilo da Infância Desvalida.
Trazer à flor da memória um pouco do que era o entendimento dessa formação, noutras épocas e noutros contextos, é o objectivo desta nota, e com ela recordar o importante papel económico da indústria caseira dos Bordados de Castelo Branco, até finais dos anos 50 do século XX. A dimensão desse papel ressalta do título de uma notícia sobre o êxito de uma Exposição de Bordados realizada em Lisboa, no Palácio Foz, publicada pelo jornal Reconquista de 15/11/ 1959: «Os Bordados de Castelo Branco - «Bom negócio para os ricos, ganha-pão para os pobres, uma grande indústria para todos. Vamos explorá-la? Ilustrava a notícia o símbolo escolhido para a indústria caseira dos Bordados de Castelo Branco: o Galo de Prata.
Em 1939, por iniciativa do padre Dr. José Ribeiro Cardoso fora criada na Junta da Província da Beira Baixa uma Escola de Bordados de Colchas de Castelo Branco. Aproveitando a realização da grande exposição realizada em Lisboa, em 1940, pelas comemorações do triplo centenário (Fundação de Portugal - 1140, Restauração 1640), Ribeiro Cardoso faz renascer o fabrico das colchas de linho bordadas a seda, que vira pela primeira vez na aldeia do Estreito, aldeia à qual se sentia ligado afectivamente. Mostrar a importância da indústria caseira na economia regional, promover o plantio de amoreiras nas terras da Beira fazendo renascer a indústria da seda, proporcionaria às desfavorecidas populações do concelho de Oleiros e doutras regiões do interior da Beira, alternativas económicas, que lhe permitiriam melhorar o frágil nível de vida e minimizar a fome que por estes anos grassava por estas aldeias. Escreveu ele: «As colchas que no passado saíam das mãos gentis das bordadeiras de Castelo Branco, neste ano de graça da Restauração, devem voltar a ter vida, animação e amor … (…). Assim nasceu a Escola de bordados da Província da Beira Baixa.». Fechada a Escola de Bordados de Castelo Branco da Junta Provincial da Beira Baixa, o Director do Asilo, Padre José Branco Pardal, consegue um acordo com o Padre José Ribeiro Cardoso: a troco de obras realizadas no Asilo (arranjo da sala do r/c esq.º e do pátio de entrada pela Junta de Província), a Direcção do Asilo disponibilizava uma sala para nele ser instalada uma Escola de Bordados de Colchas de Castelo Branco, dando assim continuidade ao trabalho desenvolvido pela Escola da Junta da Província. Os termos deste acordo constam da acta da sessão realizada a 6 de Junho de 1944. Nela se lê que o Dr. José Ribeiro Cardoso, afirmara que o Asilo constituía:«o capital permutável da sua Escola de Bordados». Oferecera o padre Ribeiro Cardoso para o arranque da Escola do Asilo, sedas no valor de 6.000$00, parte das quais restos do espólio da extinta Escola de Bordados patrocinada pela Junta da Província e outra parte sua própria propriedade. No entanto, lê-se na acta que só constituiriam «receita do Asilo os lucros provenientes do fabrico das colchas e outros bordados em que entrem, como matéria prima, a seda e o linho. Deste modo, o capital oferecido deverá ser cuidadosamente reintegrado, à medida que os trabalhos se forem concluindo, de tal modo que ele se mantenha constante». No início de Setembro de 1944 uma outra oferta de materiais, objectos e dinheiro, veio enriquecer a Escola de “Bordados de Castelo Branco” do Asilo. D. Maria de Lencastre de Almeida Garrett e seu marido Dr. Alexandre de Almeida Garrett, ofereceram à Escola 5 quilos de seda animal, uma peça de linho e uma balança pequena (apropriada para pesar sedas), 31 escudos em dinheiro, e uma apreciável quantidade de modelos e de desenhos de colchas provenientes da extinta escola de Bordados da Junta da Província da Beira Baixa. Bons frutos deu a Escola de Bordados de “Colchas de Castelo Branco” do Asilo de Castelo Branco. Nas receitas anuais, ao lado de subsídios e de ofertas de instituições e de particulares, passa a constar uma nova parcela, designada por: «Produto de trabalho confeccionado pelas internadas»,
Mas, para além desta dimensão económica, um outro aspecto ainda mais relevante que o da contribuição monetária para as despesas do Asilo interessa salientar. A aprendizagem obtida na Escola de Bordados de “Colchas de Castelo Branco” do Asilo, constituiu para muitas meninas asiladas uma importante mais-valia na sua formação para a vida, permitindo-lhes outras alternativas que não a de simples «criadas de serviço», como diria o Padre José Branco Pardal. E algumas das meninas, mesmo depois de atingida a idade da saída, para completarem a sua formação na Escola de Bordados, continuavam no Asilo. Diz a acta de 6 de Janeiro de 1946 que, uma menina tendo atingido a idade de saída, continuava no asilo em regime de excepção, e «na mesma situação excepcional ficava uma outra irmã, até completar a sua formação debordadeira, que está fazendo na Escola de Bordados». O mesmo aconteceu a uma outra, que, em regime de excepção, continuou no Asilo desempenhando as funções de auxiliar da Directora da Escola de Bordados. Só saíria a 8 de Novembro de 1946.

21/02/2018
 

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