Elsa Ligeiro
EM ABRIL LEITURAS MIL
Para os que estão em casa, que são quase todos, e porque no próximo dia 23 se assinala o Dia Mundial do Livro, permitam-me o trabalho de bibliotecária e a ousadia de vos aconselhar alguns títulos para o mês de abril.
Para começar pelos mais novos, quero recordar-vos uma autora do Tortosendo, Vanessa Martins, que escreveu Tiago – o Colecionador-Quase-Nuvem e com as ilustrações de Marta Madureira, publicou na Editora Abysmo.
O texto ganhou o Prémio Branquinho da Fonseca – Infantil, atribuído pela Fundação Gulbenkian e pelo jornal Expresso, em 2015.
Também vencedor do mesmo Prémio, mas para adolescentes, recomendo o livro Coisas Que Acontecem, da Albicastrense Inês Barata Raposo,
Editado na Bruàa, editora da Figueira da Foz.
Acreditem que é um livro com muita da nossa adolescência no Interior.
Chegados aos adultos, a escolha é muito ampla, mas como não só da leitura vive uma mulher ou um homem, aqui ficam apenas quatro sugestões, duas de autores que nasceram em 1920, há precisamente 100 anos, Ruben A. e Clarice Lispector; e dois livros divertidíssimos: um de um autor brasileiro, e o outro de uma autora portuguesa.
Começo por Ruben A. e a sua autobiografia O Mundo à Minha Procura, edição em três volumes, na Assírio & Alvim, que nos leva a várias geografias, mas a mais importante situa-se no Interior de um país e de uma ditadura, Portugal, que foi a realidade de Ruben A., que faleceu em 1975.
Num percurso pessoal que vai do Porto a Cascais, passando pela Alemanha e Áustria e se instala depois em Coimbra, nos anos quarentena, cidade que ele descreve magistralmente.
De realçar ainda nesta autobiografia a importância da viagem como elemento importante na construção de uma identidade.
De Clarice Lispector, que nasceu em dezembro de 1920, na Ucrânia; e é hoje uma das autoras mais lidas e amadas na sua pátria de acolhimento, o Brasil, recomendo a Leitura de Laços de Família, numa edição da Relógio d’Água, com um prefácio de Lídia Jorge. Diz a escritora portuguesa sobre Lispector: “As páginas de Clarice longas ou breves que sejam incomodam a ponto de doer e ao mesmo tempo empurram para a escrita como única forma de compreender e existir”.
Continuando no Brasil, a terceira recomendação para adultos vai ao encontro do génio de Machado de Assis e a um dos seus livros mais divertidos: Memórias Póstumas de Brás Cubas.
Um livro que considero ideal para uma leitura (ou uma releitura) em quarentena.
E por último, um livro de contos de Luísa Costa Gomes que trata de forma satírica e inteligente alguns comportamentos dos portugueses.
Do livro Contos Outra Vez (todo ele muito bom), destaco Uma Empresa Espiritual, que nos conta as atribulações de um ex-professor de História que abandona o ensino para integrar uma empresa de turismo que se dedica a reconstituições históricas.
Não dá para explicar em poucas palavras. É preciso ler.
E a terminar o livro, uma série de textos contínuos onde Luísa Costa Gomes mostra todo o seu talento, em Viagens que Nunca Fiz.
Elsa Ligeiro
Se o(a) leitor(a) é como eu, e o que gosta é de viajar lendo em casa, tem à sua disposição sete viagens inesquecíveis, numa criação literária de talento e de bom humor, só ao alcance de uma escrita de excelência como é a de Luísa Costa Gomes.
Especialmente para os burocratas que gostam de se disfarçar de exploradores, recomendo a aventura no deserto em jipe, que Costa Gomes intitulou “Algures a Sul do Bidon V”.
Hilariante, e um belo retrato do turismo de massas.