Edição nº 1643 - 17 de junho de 2020

Alfredo da Silva Correia
O NOSSO SISTEMA POLÍTICO E A COVID-19 - POSTURA POLÍTICA EXEMPLAR

No meu artigo anterior expus o que sinto, em termos gerais, sobre o processo que se está a instalar pelo mundo fora, sobre a possível autodestruição da democracia. Não obstante sinta que o nosso país também está a sofrer com tal processo, bem expresso no enorme endividamento que hoje atingimos, também observo com gosto que, perante o enorme problema que caiu sobre a humanidade, a pandemia que também nos está a afectar profundamente mesmo em termos económicos, o nosso sistema político tem estado a reagir com algum equilíbrio e bom senso.
Efectivamente, tenho apreciado o facto de sentir que as dificuldades que estamos a viver se têm estado a constituir num elo de compreensão entre o governo e os partidos da oposição, em termos gerais. Salvo algumas excepções tem-se verificado um entendimento entre os responsáveis políticos (governo e oposição) com o objectivo de que os problemas bem difíceis com que estamos a deparar se minimizem, o que considero muito construtivo.
É verdade que os difíceis problemas económicos que já estamos a sentir, com muitas famílias a perder fortemente poder de compra e algumas até a caírem na miséria, ainda só agora se estão a declarar. Não tenho dúvidas de que se vão acentuar, embora espero estar enganado, razão pela qual, se o não estiver, veremos, como reagem as oposições perante medidas duras que temo tenham de vir a ser tomadas pelo governo, pertença ele ao partido que pertencer.
De facto, vai ser nesta profunda problemática de dificuldades sócio económicas que vamos atravessar, que veremos se os partidos vão ter ou não a maturidade suficiente para compreender que o país só conseguirá minimizar o sofrimento do seu povo, criado por esta lamentável pandemia, se os governantes e as oposições unirem esforços para que se possam tomar, necessárias medidas, para a retoma da economia. Efectivamente é em dificuldades como as que estamos a viver, que vamos poder apreciar, quem põe o interesse do povo em geral à frente do interesse, quantas vezes egoísta, das classes dirigentes dos diversos partidos.
É verdade que estamos inseridos na Comunidade Europeia o que, na minha opinião, é uma vantagem enorme, pelo que vamos ver se as dificuldades surgidas comuns a todos, se transformam num reforço dos laços criados há tanto tempo ou se, face às mesmas, se instala o princípio de cada um que se governe, o que se constituiria numa catástrofe, sobretudo para os mais endividados, como é o nosso caso. Espero, sinceramente, que prevaleça também nesta matéria o bom senso e a Europa se reforce e crie as condições necessárias para em conjunto enfrentarmos tamanhas dificuldades.
Para retomarmos o crescimento económico desejável, não tenho dúvidas que é fundamental que o Banco Central Europeu emita moeda a um nível bem elevado, para financiar a retoma económica dos diversos países, sem o que as dificuldades serão ainda bem maiores.
Não é nada de novo, pois é o que fazem os países que têm moeda própria e ao fazê-lo a um nível elevado, fazem crescer acentuadamente a taxa de inflação, retirando poder de compra ao povo sem que ele o sinta tanto, quanto o sentiria se lhe reduzissem os rendimentos. De facto, quando há uma crise económica o povo perde sempre poder de compra, como acontece quando uma empresa entra em processo de insolvência ou uma família no desemprego.
Verificando-se este esforço de retoma económica, considero fundamental que se tenha em consideração a maior consciencialização hoje verificada a nível mundial, de que o modo de vida da humanidade, de antes da pandemia, atacou a natureza com consequências nefastas nas alterações climáticas verificadas. Assim é fundamental que se faça um grande esforço de adequação a esta realidade, para que não soframos as conse-quências de tais alterações.
Poderá pensar-se que a perda de poder de compra é mau, o que é verdade, mas tal é fatal como o destino, pois quando se reduz acentuadamente a produção, verifica-se sempre perda de poder de compra dos povos respectivos. Numa situação destas a preocupação mais construtiva dos dirigentes políticos é a de tudo fazer para que se repartam os sacrifícios, de uma forma o mais igualitária possível, mas sempre sem desmotivar à produção.
Efectivamente, devendo haver, sem dúvida alguma, esta preocupação igualitária, irão mal os dirigentes que tomem medidas redistributivas sem ter em atenção que num processo em que se procura a retoma económica, não se tenha em consideração a necessidade de beneficiar mais os que de facto mais se esforçam, quer em termos de trabalho, quer em termos de iniciativa criativa e de risco. De facto sem estas atitudes dificilmente se consegue o almejado crescimento económico.
Enfim vivemos tempos nada fáceis. O povo português tem tido a sorte de em termos gerais o seu sistema político ter estado bem nestes tempos difíceis, pelo que vamos fazer votos que continuem com a mesma postura construtiva, afim de que tão rápido quanto possível, possamos ultrapassar as dificuldades que atravessamos e que são maiores para aqueles que perdem todos os rendimentos.
Por mim é o que mais desejo.

17/06/2020
 

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