Alfredo da Silva Correia
É preciso adequação
Muitas pessoas, em crescendo, vivem hoje em receio quanto ao seu futuro económico, o que se não pode deixar de dever à qualidade da governação das últimas décadas, na medida em que com o desenvolvimento da técnica e da ciência, o sentimento instalado deveria ser o do otimismo. Os que acreditem nesta leitura não podem deixar de se interrogar sobre a razão de tal e eu, com a minha longa experiência de 80 anos de idade, não posso deixar de pensar que se deve à tendência, verificada nos últimos anos, dos mais capazes estarem a deixar progressivamente de se disponibilizar para dar os respectivos contributos cívicos na governação, o que se sente estar a acontecer por esse mundo fora.
De facto, hoje, alguém que tenha tido êxito na vida, porque é trabalhador, gere bem, é honesto e tenha conseguido angariar algum pecúlio e experiência profissional, não se sujeita a assumir responsabilidades na política, pois sabe que acabará por ser alvo de maledicências, do que resulta que o poder político está, progressivamente, a ser ocupado por pessoas menos capazes.
É um processo recente, mas que está em crescendo, com as chamadas fake news (notícias falsas), que são publicadas nas redes sociais e órgãos de comunicação social, que circulam com toda a impunidade, por esse mundo fora, com consequências bem nefastas.
É de facto um processo destrutivo de pessoas que está a afastar os mais capazes da vida pública e que, a nada ser feito, será um processo que não nos pode deixar de conduzir para tempos complicados e em que a pobreza acabará, infelizmente, por ganhar espaço. Será uma questão de tempo, pois a má gestão paga-se sempre, sendo uma ideia que aprendi há muito.
Diz-se que a corrupção está hoje generalizada, o que eu considero ser um exagero. Há corrupção, sem dúvida alguma, mas nunca terá a dimensão que os órgãos de comunicação e as redes sociais lhe atribuem, estando tal dimensão, inclusivamente, a destruir muitos inocentes, a partir de notícias mal tratadas, apenas porque há interesse que o não sejam. De tal modo assim é, que não é difícil, mesmo no nosso país, deparar-se com pessoas inocentes a serem publicamente denegridas, com consequências bem nefastas, na motivação de darem o seu contributo para o almejado desenvolvimento socioeconómico.
Estamos de facto a cair numa sociedade tipo lixeira em que os incapazes, quantas vezes, políticos de carreira, para atingirem os seus objectivos, não têm quaisquer escrúpulos em denegrir inocentes, a partir de meias verdades e sem que aprofundem os factos de que falam.
Assim, não posso deixar de me interrogar o que será de nós, quando a cultura instalada tudo faz para desincentivar pessoas capazes e honestas a candidatar-se a lugares na política. É óbvio que o que vai acontecer é que tais lugares acabarão por ser ocupados por incapazes, que nunca geriram nada na vida e, consequentemente, por não terem nada, não é difícil deixarem-se corromper, o que terá consequências nefastas no nosso nível de vida futuro.
É uma situação que sinto nos últimos anos em crescimento, não me sendo difícil hoje deparar já com pessoas em lugares na política sem o mínimo de experiência de vida, para um bom desempenho do lugar que ocupam. Ora, tal só pode estar a acontecer porque os responsáveis máximos têm dificuldades em arranjar pessoas experientes que estejam disponíveis para tais desempenhos, pois se os ocupassem não seria difícil a partir de um pequeno erro (e quem os não comete?), serem sujeitos ao achincalhamento.
É por isso que reafirmo a minha convicção de que, infelizmente, o nosso país continuará a perder posições no âmbito dos indicadores de competitividade internacional. Ainda no ano passado perdemos duas posições, mas continuaremos a perder pois, para que tal não aconteça, será necessário que sejamos geridos pelos melhores, ou seja pelos que têm experiência de gestão e que já demonstraram que efectivamente o sabem fazer.
Faço estas afirmações por sentir que o nosso país está numa situação nada fácil, não só pelo seu enorme endividamento, mas também pela cultura instalada, da qual se pode tirar a leitura que quase não é necessário trabalhar.
Efectivamente hoje está instalada a cultura de que se alguém tiver problemas o Estado tem obrigação de lhos resolver, o que está a conduzir a uma falta de capacidade de luta e até de poupança, do que resulta também inúmeras dificuldades em que haja investimentos a um nível tal, que nos torne competitivos. Com a minha experiência de vida posso afirmar que um povo, uma empresa ou até uma família será muito o resultado da cultura que lhe vem de cima ou seja dos seus dirigentes, e a que nos vem do nosso sistema político não reforça o objetivo de sermos competitivos.
Temo assim que um dia o nosso povo venha a pagar pela cultura referida instalada, que tudo promete e ataca quantas vezes injustamente os mais capazes. Espero estar enganado nesta minha convicção, mas temo muito que não.