Edição nº 1654 - 2 de setembro de 2020

Alfredo da Silva Correia
CONSEQUÊNCIAS DO ENDIVIDAMENTO - ADAPTEMO-NOS

O nosso enorme endividamento tem hoje um nível de desequilíbrio preocupante, atingido a partir de uma cultura de facilidades injectada pelo sistema político e de promessas irrealistas, quantas vezes desincentivadoras da luta pela produção, com consequências na economia do país, o que conduz a que o povo português não consiga produzir o suficiente para poder usufruir do nível de vida hoje atingido, sem os crescentes e progressivos financiamentos.
De facto nas organizações do Estado ou naquelas em que tem responsabilidades, foram criados postos de trabalhos, ou transformaram-se com o tempo em fictícios, sem que haja coragem de resolver tal irracionalidade económica, com consequências no desequilíbrio económico-financeiro atingido.
Efectivamente, tal conduz a que quem os ocupa beneficie de um vencimento mas não produz o valor do mesmo, gerando desequilíbrios económicos nas organizações respectivas, o que se deve a uma legislação que não considera a evolução verificada nas envolventes socioeconómicas em que se opera. Em termos sociais, o que está a acontecer tem todo o cabimento, pelo que até se pode compreender as razões da manutenção destes desequilíbrios económicos e as dificuldades em se tomarem medidas económicas racionais.
Sendo tal mau para a empresa ou organização em que tal acontece, oferece ainda a desvantagem de que quem os ocupa ficticiamente, não estar disponível para a produção efectiva onde pode fazer falta, o que tem influência no valor do PIB conseguido pelo povo português.
Poderá dizer-se que o referido é um exagero, mas a verdade é que vivemos problemas quer no próprio Estado, por estar a suportar gastos com o pessoal numa percentagem elevadíssima do valor total do orçamento geral do Estado, o que o limita muito na realização de investimentos que teriam efeito multiplicador na economia, como sendo na reorganização do próprio Estado.
Mas se tal acontece no Estado, também ocorre num conjunto de empresas nas quais tem responsabilidades e que têm uma situação financeira perfeitamente desequilibrada. Estas acabam por ter capitais próprios negativos, devido a um enorme e progressivo desequilíbrio económico de há muitos anos e têm-no também porque ninguém consegue adequar, a quantidade de efectivos disponíveis às necessidades reais actuais.
Acontece que normalmente nestas empresas os respectivos trabalhadores são dos mais reivindicativos a nível nacional. Poderia dar o exemplo de ter gerido uma empresa em que a recebi perfeitamente desequilibrada, com 560 trabalhadores e passados 30 anos quando a deixei eram só 233, mas produzia-se mais do que quando a recebi, o que revela bem a necessidade de haver adequação a novas realidades.
Estou convencido que a afirmação atrás feita tem fundamento em empresas como a TAP, a CP, o Metro, a Carris, entre outras, nas quais o Estado tem responsabilidade de avales em financiamentos das mesmas, com o objectivo de as manter, pois satisfazem necessidades fundamentais às populações, há que reconhecê-lo. Estas, no entanto, criarão no futuro grandes problemas ao orçamento geral do Estado, ou seja aos contribuintes.
Esta cultura instalada de direitos adquiridos existentes está a conduzir a que o Estado, para além do endividamento directo que tem, que já é enorme e que continua em crescendo há muitos anos, tem ainda responsabilidades em avales de financiamentos em empresas por si detidas, o que em conjunto pode criar uma situação explosiva para o povo português, caso as taxas de juros comecem a subir como é previsível.
Efectivamente toda esta situação, sendo preocupante por desequilibrada, não pode deixar de resultar da governação que o sistema político permite, pois não é uma situação que tenha sido criada apenas por este governo, vindo já de vários governos anteriores e nenhum deles foi capaz de procurar minimizar as causas que estão a conduzir a esta situação.
Sendo uma realidade o referido, também não posso deixar de referir que mesmo noutros tempos o povo português criou situações quase semelhantes e sempre aconteceu algo que tenha minimizado a situação criada, pelo que vamos ter esperanças que algo nos aconteça que permita resolver tamanho problema de endividamento sem que tenhamos que sofrer muito.
Uma possibilidade é a da própria Europa querer reforçar-se e para tal, ter que resolver a situação dos países desequilibrados em termos financeiros, criando mecanismos para tal, já que para conseguir tal reforço, hoje fundamental para o todo Europeu, deveria ter-se um ponto de partida em que todos os países tenham situações equivalentes pelo menos em termos financeiros.
É uma ideia, mas a verdade é que também pode tal não acontecer e então se não conseguirmos o equilíbrio por outra via, muito sofreremos quando um dia a taxa de juros crescer ou comece a haver dificuldades em nos continuarmos a financiar.
Neste caso, não tenho dúvidas que o governo que então estiver no poder não poderá deixar de procurar equilibrar a nação e ou pura e simplesmente incumpre com alguns financiadores, sujeitando-se às consequências inerentes. Se optar pelo equilíbrio, não deixará de passar por ter que reduzir salários, reformas e também deixando cair alguns apoios sociais de que hoje beneficiamos, para além de outras medidas sempre possíveis, o que muito lamento se tal vier a acontecer.
Sei que a muitos tal nem passa pela cabeça e eu reconheço que também tenho dificuldades em o aceitar, mas não posso deixar de considerar que é o que acontecia quando emitíamos moeda, já que em tal situação os governos para resolver o problema, emitiam ficticiamente moeda, já que não representava poder de produção real, a taxa de inflação crescia acentuadamente mais do que os salários e as reformas e o povo perdia poder de compra,
Como hoje não emitimos moeda a única forma de resolver um problema de desequilíbrio económico e financeiro será o de reduzir de uma forma real os salários e reformas, bem como outros rendimentos, o que um dia nos acontecerá se não houver um novo milagre.
Enfim, os desequilíbrios pagam-se sempre e sem dúvida alguma que o nosso endividamento já era perfeitamente desequilibrado, mesmo antes de ter chegado a pandemia que hoje vivemos, pelo que não podemos deixar de temer pelo que poderá vir a seguir.
Vamos ver se me engano o que muito desejo…

02/09/2020
 

Em Agenda

 
29/05 a 12/10
Castanheira Retrospetiva Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2023

Castelo Branco nos Açores

Video