Edição nº 1685 - 7 de abril de 2021

Valter Lemos
VELHOS SÃO OS TRAPOS...

Como no último ano temos sido diariamente bombardeados nas televisões, nos jornais e nas redes sociais com a pandemia covid 19, às vezes de modo contraproducente porque a repetição e a cacofonia são tão grandes que só apetece desligar tudo, tenho evitado contribuir para o ruído nas minhas breves intervenções escritas públicas. Mas, desta vez não quero deixar de me referir a um assunto que à mesma respeita.
Quero, em primeiro lugar, referir que entendo que, apesar de alguns erros e omissões compreensivelmente cometidos, o governo, o presidente e a maioria das instituições têm gerido bastante bem o processo decorrente da situação pandémica. No entanto, soube-se pela voz da ministra do trabalho e da solidariedade social, que os idosos internados em lares, continuariam a não poder receber visitas dos familiares! Ora tal situação suscita-me uma reação de completa discordância.
A task force da vacinação anunciou que os idosos internados em lares já se encontram todos completamente vacinados. Também o pessoal que presta serviço nos lares se encontra já imunizado. Assim torna-se incompreensível a continuidade de uma restrição total de visitas como a anunciada.
Poderá argumentar-se que estando os idosos e o pessoal vacinados, não estarão, provavelmente, os visitantes. Mas, não é possível organizar as visitas, de forma a minimizar os riscos, os quais já são menores, face ao nível de imunização já existente nas instituições? Não é possível, por exemplo, reforçar o tipo de máscaras a usar, colocar barreiras físicas, como acrílicos e outras medidas semelhantes?
O que não é compreensível é que os responsáveis não percebam que a ausência de visitas de familiares, durante meses consecutivos, a idosos institucionalizados, muitos deles física e psicologicamente frágeis, é uma atitude de uma total insensibilidade social e humana. Olhar para a questão exclusivamente e estritamente pela perspetiva epidemiológica é não só desumano como até estúpido. Porque do ponto de vista da saúde também se colocam as dimensões psicológicas e mesmo sociais.
Tratar os idosos e especialmente os idosos dependentes como cidadãos incompletos é uma atitude muito criticável social e politicamente. O nível de desenvolvimento humano e a civilidade de uma sociedade pode ser definido pela forma como trata os seus elementos mais frágeis. O modelo social que nos caracteriza implica políticas públicas e atitudes sociais de compromisso com uma justa equidade intergeracional e intercondicional, não só relativamente aos recursos materiais, mas, também relativamente aos imateriais, de forma a assegurar uma efetiva igualdade de cidadania.
É, pois, inaceitável, a confirmar-se, a opção de continuidade da proibição de visitas aos lares de idosos. O que devia preocupar os responsáveis é a forma como assegurar a realização das visitas e não a sua proibição. Perceber-se-ia a existência de restrições sanitárias ao contacto com visitantes e a sujeição a um protocolo adequado, mas, não pode justificar-se, de todo, uma proibição.
Espera-se, pois, que as entidades responsáveis revejam a situação anunciada e expliquem de forma clara as razões que subsistam para a decisão que considerarem adequada, que não podem ser somente de inércia ou facilidade.

07/04/2021
 

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