Valter Lemos
AUTÁRQUICAS: AFINAL PARA ONDE VAMOS?
Aproxima-se o fim do atual ciclo político autárquico e o início do próximo. É, pois, o tempo de apurar resultados do passado e definir objetivos para o futuro.
Castelo Branco viveu grande parte do século XX assente no seu estatuto de capital de distrito. Foi isso que lhe trouxe algumas instituições públicas como o então Liceu Nacional e a Escola Comercial e Industrial, para além das delegações de serviços da administração pública. Não era uma cidade industrial, nem comercial, nem mesmo uma verdadeira capital rural, mas, sim uma cidade de serviços públicos.
Após o 25 de Abril iniciou-se um novo ciclo de desenvolvimento em todo o país, mas faltavam os meios para o investimento necessário a tal desenvolvimento. Esses vieram com a adesão à CEE em meados da década de 80, impulsionando um crescimento que veio a ter lugar em todo o país, com a construção de uma rede de ensino superior, uma rede de comunicação rodoviária e uma rede de infraestruturas empresariais.
Castelo Branco beneficiou ainda da sua condição de capital de distrito nos ciclos de construção dessas redes. O ensino superior assumiu declaradamente o formato de rede distrital, sendo criado um Instituto Politécnico em cada capital de distrito que não dispusesse já de uma universidade. O distrito de Castelo Branco já dispunha de uma universidade na cidade da Covilhã, a qual havia sido criada inicialmente como instituto politécnico ainda na década de 70, durante a chamada reforma Veiga Simão, mas, ainda assim como a mesma não se situava na capital de distrito, foi criado nesta um instituto politécnico.
Isto significou que o território do então distrito de Castelo Branco, foi o único, no interior do país, onde foi criada uma universidade e um instituto politécnico. Isso não aconteceu, nem acontece, nos restantes e até em alguns do litoral.
Mas atualmente em que se traduz a mais-valia de dispor no território do anterior distrito de Castelo Branco de duas instituições de ensino superior? Isso traduz-se afinal em ganhos de desenvolvimento face aos outros? A dinâmica do politécnico e da universidade alavancam-se ou potenciam-se mutuamente?
Não parece que tal aconteça. Após a fase de crescimento e construção da sua identidade, o que fizeram as instituições para se potenciarem? Há alguma entidade conjunta? Há projetos comuns em curso? Há colaboração científica e pedagógica? Há sequer reuniões periódicas conjuntas entre os responsáveis?
A verdade é que não há quase nada. O IPCB e a UBI pura e simplesmente ignoram-se educadamente.
Do ponto de vista de Castelo Branco cumpriu-se o ciclo de desenvolvimento do ensino superior. Criaram-se as escolas superiores, construíram-se as instalações, criaram-se e construíram-se as residências de estudantes, definiu-se a rede formativa, recrutou-se e formou-se o corpo docente. Este ciclo, no entanto, terminou há alguns anos. Daí para cá tudo estagnou. Não há vislumbre de novo ciclo. Há, como se sabe, um processo de downsizing em curso, mas o objetivo é manifestamente curto (quer no sentido conotativo, quer denotativo).
A rede de infraestruturas empresariais teve, no caso de Castelo Branco, também um desenvolvimento significativo. Constituída como objetivo de referência desde o início, foi alavancada pelo impulso à industrialização ocorrido durante o ciclo autárquico de César Vilafranca. Dinamizada durante esse ciclo, foi ampliada, estabilizada e infraestruturada durante o ciclo autárquico seguinte de Joaquim Morão.
Aos crescimentos na dimensão industrial e empresarial e na dimensão educacional e técnica, correspondeu também uma expansão urbana significativa, com a construção de novas zonas habitacionais e posterior abertura de novas vias, circulações e avenidas, definindo e ordenando a expansão da nova malha urbana e as respetivas ligações à nova rede de circulação rodoviária de que se destacam numa primeira fase o IP2 e numa segunda a A23.
Durante os dois ciclos autárquicos já referidos pareceu estar sempre claro o sentido do desenvolvimento de Castelo Branco. Mas, toda esta clareza parece ter desaparecido com o fim do ciclo Joaquim Morão.
Foi dito (eu próprio o disse) e ainda é dito por alguns que o que se tem passado e o que vai passar-se é ainda a continuação desse ciclo, mas tal deixou definitivamente de ser claro com o passar do tempo, o que se agravou naturalmente com as circunstâncias em que decorreu o último mandato autárquico, com o afastamento judicial do presidente da Câmara, a sua substituição por outro que nunca se havia candidatado a tal cargo e com a atual nebulosa existente sobre quem representa quem e quais são, afinal, as forças políticas que governam o destino dos albicastrenses.
Parece ser tempo, pois, de clarificar bem os objetivos para o próximo mandato autárquico. As candidaturas que se apresentem deverão explicitar bem ao que vêm. Afinal querem definir um novo ciclo político autárquico? Se assim for terão que explicitar o sentido e os objetivos do mesmo, pelo menos com o mesmo alcance dos anteriores. Se assim não for e se tratar de uma continuação de um ciclo que consideram ainda não terminado, deverão dizê-lo e identificar o que falta, afinal, para completar o ciclo.
Se os candidatos não fizerem tais clarificações, ficaremos também a saber que o que está em causa não será o sentido de para onde vamos, mas, sim, para onde eles vão ou querem ir.