Edição nº 1703 - 18 de agosto de 2021

Lopes Marcelo
ROMARIAS DA NOSSA SAUDADE

Na época de verão, sobretudo durante o mês de Agosto, as nossas terras exercem uma grande atracção sobre os seus naturais saídos pelo êxodo rural para as cidades e também para a emigração. Entre as bandeiras culturais da identidade de cada terra, destacam-se as romarias, festas celebrativas do Santo padroeiro da devoção de toda a comunidade. Embora não se realizando em toda a sua genuína expressão devido actual contexto da pandemia, a sua evocação é um afectuoso refrigério que nos anima.
No caso da minha terra natal, Aranhas, a festa anual é dedicada a Nossa Senhora do Bom Sucesso. O contexto histórico tem que ver com uma capela do mesmo orago, construída em memória de uma refrega da Guerra da Restauração, sendo os castelhanos em maior número. O Comandante da gente lusa, ao ver a grande diferença das suas tropas, fez votos de erguer ali bem perto da ribeira da Baságueda e da fronteira entre Penamacor e Valverde Del Fresno, um templo à Virgem sob a invocação de Bom Sucesso, se triunfasse. O que realmente sucedeu.
Embora não situada nos limites territoriais da Freguesia de Aranhas, a sua população sempre participou na designada «Festa da ribeira», já que os terrenos e os moinhos circundantes da ermida eram explorados por Aranhenses que criaram laços de sangue e de amizade com os povos vizinhos de Espanha. Devido a desentendimento na organização da Festa e até com algumas fortes brigas com os da Vila (Penamacor), o povo de Aranhas resolveu no final do século XIX construir a sua própria Capela à Senhora do Bom Sucesso no cimo do monte mais próximo. De facto, em 1896, foi pedido ao Bispo da Guarda que concedesse licença para a benção da mesma a fim de ali se realizar a primeira festa em Setembro desse ano. O povo, devido ao local em que a ermida se encontra, assumiu a designação terna de Nossa Senhora do Cabecinho. Por isso assim canta:
Oh Virgem Mãe do Bom Sucesso
Que estais lá no cabecinho
Por mais calor que lá faça
Sempre lá corre o ventinho.

Oh Virgem Mãe do Bom Sucesso
Onde Vos foram a pôr
Lá no alto do cabeço
Visitar Penamacor.
Inicialmente, foi a romaria celebrada no mesmo dia da «Festa da ribeira» em franca disputa de concorrência. Contudo, para se ultrapassarem definitivamente as disputas, foi marcada a festa anual do povo de Aranhas para o terceiro Domingo de Agosto, o que ainda se mantém.
Até há alguns anos, a festa era essencialmente religiosa e começava logo pela manhã cedo com toda a povoação a acordar ao som de foguetes e da Banda da música a tocar a alvorada lá no alto do cabeço. A banda filarmónica descia à aldeia e desfilava pelas ruas principais, orientada pela Comissão dos festeiros e acompanhada pela miudagem que já estava a pé com o fito de apanhar as canas dos foguetes. Por volta do meio-dia, iniciava-se a procissão partindo da Igreja matriz e dirigindo-se lentamente, ao ritmo da Banda da música, pela rua do Rodeio em direcção à Capela lá no cimo do monte. As ruas engalanavam-se com coloridas e artísticas colchas de linho pendentes das varandas e janelas de onde eram deitadas pétalas de flores sobre os andores. Junto a algumas janelas e balcões, ia parando o andor de Nossa Senhora para o pagamento de promessas, sendo colocadas notas presas por alfinetes nas fitas na base do andor, sobretudo pelos emigrantes. Na procissão, que era iniciada pelos grandes e coloridos estandartes empunhados pelos rapazes mais fortes, integrava-se para além do grande andor de Nossa Senhora, o rico e solene Pálio (Sobrecéu portátil de ricas sedas suportado por varas) que protegia o sacerdote com a custódia. Outros andores mais pequenos compunham o cortejo das imagens dos santos seguido de vários pequenos estandartes e bandeiras das confrarias e outras invocando promessas, levadas por jovens. Uma outra referência ao pagamento de promessas, estava ligada ao privilégio que representava o pegar nas varas de suporte do andor principal, o que implicava que a procissão tinha que ir parando várias vezes para se revezarem as pessoas que pretendiam levar o andor de Nossa Senhora. Chegados à Capela, colocado o andor no alpendre com a imagem de Nossa Senhora virada para o exterior, celebrava-se a festiva missa campal onde era proferido um sermão pelo melhor pregador da região. No final da missa, durante a procissão no recinto à volta da Capela, era deitada mais uma forte descarga de foguetes.

18/08/2021
 

Em Agenda

 
07/03 a 31/05
Memórias e Vivências do SentirMuseu Municipal de Penamacor
12/04 a 24/05
Florestas entre TraçosGaleria Castra Leuca Arte Contemporânea, Castelo Branco
14/04 a 31/05
Profissões de todos os temposJunta de Freguesia de Oleiros Amieira

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2023

Castelo Branco nos Açores

Video