João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ASSUMO QUE SOBRE A MORTE DE JORGE SAMPAIO tenho dificuldade em escrever, porque todos os adjetivos já foram usados. Mas de todos eles escolho o que melhor retrata aquele que foi o mais consensual e empático dos Presidentes da nossa Democracia. Jorge Sampaio foi um homem bom. Um homem que se preocupou com os outros, com os mais necessitados, qualquer que seja a perspetiva que se tome. Que esteve de corpo e alma nos principais momentos da nossa vida democrática. Como aconteceu com o processo de independência do povo de Timor, momento que viveu com evidente empenho e emoção. Por isso foi justa e sentida, a homenagem do povo Timorense no momento de despedida de um homem que desde jovem sempre lutou pela liberdade, que não teve medo de defender nos tribunais fascistas, os combatentes pela liberdade que caíam nas malhas da PIDE. Sobre Jorge Sampaio não há adjetivos que bastem. Solidário, homem solidário com um coração que ultrapassou fronteiras, como mostra o apoio que a sua Plataforma Global para Estudantes Sírios deu a tantos estudantes Sírios que fugiram da guerra e aqui puderam estudar e formar-se. E quase à maneira de testamento político, na última intervenção cívica, em artigo publicado no jornal Público, alertou e pediu solidariedade para as mulheres e jovens Afegãos. Homem solidário que tantas vezes foi incapaz de se deixar de emocionar em público. Porque era um homem bom. E era também um homem de grande cultura e forte convicção ideológica. Com um discurso bem estruturado que muitos, habituados aos sound bites da maioria dos atores da cena política, consideravam demasiado elaborado, mesmo ininteligível para muitos.E que só pareciam entender quando a sua mensagem chegava através dos grandes média mundiais ou era ouvida nos principais fóruns internacionais, como a ONU. Partiu agora, e o que gostaríamos é que os políticos de hoje fossem dignos do seu legado, depositários dos princípios éticos da política mais próxima dos cidadãos. Parafraseando o próprio, Sampaio sempre!
PASSARAM HÁ POUCOS DIAS, 20 anos sobre o vil ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque. Tornámos a rever as dramáticas imagens dos ataques terroristas. E é comum dizer-se que este acontecimento mudou o Mundo para sempre. Passámos a viver sobre regras de segurança muito apertadas, principalmente nas viagens aéreas. O objetivo Americano e dos seus aliados de capturar o mentor dos ataques e de desmantelar as redes terroristas que se alimentavam do radicalismo islâmico levou à guerra do Iraque e à queda de Sadam Husseim, sem que dessa operação tenha resultado paz e estabilidade na região; levou à ocupação do Afeganistão e afastamento dos talibãs, uma operação sempre precária, com benefícios evidentes para as mulheres e minorias religiosas mas sem que os valores da democracia, da tolerância religiosa e da igualdade, tivessem sido assentes em bases duradoiras. Ainda os Americanos e aliados não tinham saído do Aeroporto de Cabul e já os antigos combatentes talibãs estavam de regresso ao poder, como se estes 20 anos tivessem sido um simples parênteses nos seus desígnios. Ao fim destes 20 anos, o Mundo estará melhor, mais seguro?