Seita, do latim (secta), é sinónimo de fação, partido, bando.... As seitas constroem uma ideologia, um sistema filosófico, religioso ou político que se afastou de uma doutrina dominante. Os seus fundadores falam, obrigatoriamente, com autoridade.
Criam um modus vivendi diferente. A tradição deixa de ser o que era; as regras do bom viver não pactuam com práticas que, a seu ver, ultrapassaram o prazo de validade; declaram princípios caídos em desuso. Ortodoxias rejeitam-se com argumentos que valem o que vale quem os esgrime; quem tem poder categoriza o que é seita e o que não é. A palavra carrega uma conotação pejorativa. Ninguém gosta de ser avaliado por sectários que, como se entende, são sempre os outros.
E há seitas pequeninas, pequeníssimas, e insignificantes... em todo o lado, adorando os deuses da sua afeição. Por exemplo, nos partidos políticos coexistem militantes, simpatizantes, independentes e muitas fações. Os grupos religiosos, mais disciplinados, enfrentam ateus que, dizem, a devoção não bafejou e muitos outros que se perderam nas ofertas dos atuais hipermercados da fé.
Não se esqueçam também, os frequentadores dos diferentes espaços culturais, os adoradores de “capelas” específicas, os profissionais de todos os setores e os desempregados, os que bebem álcool e os abstémios, os vegetarianos, os macrobióticos, os ecologistas e os madeireiros, os confrades de todas as confrarias laicas e religiosas em combinações possíveis até ao infinito (em linguagem matemática) ... podem conceber e sustentar sectarismos. Não se constituirão todos em seitas, mas os diferentes correligionários de cada uma das organizações têm alma para detetarem amigos, adversários e inimigos... Se os apoiantes são reduzidos ou não se manifestam às claras, ainda assim, forjam a construção de engenhocas para superar ortodoxias fechadas e celebram todos os heterodoxos.
Não é pecado mortal pertencer uma seita, se for de pequena dimensão e com fiéis pouco assertivos. Mas a pertença a estas organizações, garante companhia para um copo, um café, para uma discussão, uma má-língua, uma viagem... e igualmente para o desenho de fatos talhados à medida para um emprego.... seja para o que for...
Ensinam os costumes que interessa sobretudo mimar o topo dos sectários maioritários. Enquanto brilha a luz da opção, são célebres, vencem mais facilmente obstáculos. Depois, aplaudem-se, fazem festas, deitam foguetes. Em caso de vitória, crescem tanto que perdem o sentido de seita e passam a designar-se uma organização mais nobre, mais complexa.
Criam-se novas seitas e capelas, mas enquanto o pau vai e vem... podem contar-se anos, décadas, séculos.
Os das minorias, narcisistas, críticos por excelência, depuram-se tanto... até ficar um só- Unzinho! Megalómanos, despejam azedume. Só eles, emissários de deuses, sabem, possuem a verdade, e lutam, lutam, lutam... até à exaustão!
No contexto, mexilhões de vários graus entretêm-se a apanhar e a dar bordoada uns nos outros. Este festival de desconcerto não se dispensa, em sociedades democráticas!
Há sectários que se esforçam por aprender a falar tantas linguagens quantas as dos pensamentos existentes. É um trabalho hercúleo com o seu quê de camaleonismo, mas tem generosas compensações... normalmente esporádicas. Devagarinho, o sectário estuda a situação, elimina adversários e, reunidas as condições, dá um salto inesperado, às vezes mortal, deita um foguete de rebentamento e espera pelo resultado do artifício. Muito? Pouco? Depende. Os sectários a sério caminham no êxito de cabeça erguida, viajam em automóveis de alta cilindrada, tratam o Dubai e outros locais cinco estrelas por tu.
Problema? Ao fim de algum tempo, o fígado ressente-se. Enve-lhecem cinzentos, enrugados, ácidos, expostos a putativas penas.

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