9 de outubro de 2019

Antonieta Garcia
TRÊS P’S: PIOLHOS, PULGAS E PERCEVEJOS

Estes são insetos execráveis. Parasitas. Atacam quando e onde podem, causam uma coceira insuportável, reproduzem-se sem tom nem som. Antes que se encontrasse um exterminador eficiente, durante séculos, deram asas à liberdade e vá de sugar infelizes em ceca e meca e no vale de Santarém.
Com má fama, a palavra piolho sempre serviu para nomear qualquer intrometimento indesejado: “Mete-se como piolho por costuras!!!”.
Designava igualmente um lugar desprezível, nas salas de cinema. Quem ia para o piolho?
Segundo o ângulo de visão de D. Carlos, Portugal, país pobrete em muitas áreas, era uma piolheira. Piolheira? Por ser monarca, estava nas suas mãos a mudança. Não lhe perdoarão a opinião.
As narrativas sobre estas criaturas são muitas, e a maioria tem uma idade janota! A imagem de uma mãe que cata piolhos, ao sol, abrindo riscos no cabelo para encontrar os malandretes e aniquilá-los… convenhamos que, nos dias que correm, tem um toque de velharia. Animal com má fama, anda com os pés nas cabeças dos outros e sete vezes maldito gira, pica e muda de rumo…
Certo é que as fêmeas põem cerca de cinco ovos por dia e as lêndeas continuam a brilhar nos cabelos até se tornarem piolhos. Muitos!!!
Vem este tema a propósito da rentrée. Nas escolas, muitas cabecitas juntas costumam ser pasto festivo para os parasitas. Qualquer cabeça lhes serve. E resistem tanto, tanto, tais vampiros.... Felizmente, as farmácias dispõem agora de champôs, pentes, vaporizadores… que matam piolhos e lêndeas com eficácia…
Acresce que são protagonistas de histórias do arco da velha. Conta-se, por exemplo, que na fuga da família real portuguesa para o Brasil, ao tempo das Invasões Francesas, o Rio de Janeiro preparou uma festa com pompa e circunstância para receber tão ilustres personalidades. D. João desembarcou acompanhado pela mulher, Carlota Joaquina, e pelas filhas, Maria Francisca e Isabel Maria.
As senhoras da alta sociedade colonial, que assistiam às boas-vindas, ficaram surpreendidas, quando viram D. Carlota, as princesas e outras damas da corte, com a cabeça rapada e com um turbante.... Deduziram que este seria o último grito da moda nas cortes europeias. Imitaram as recém-chegadas. E pelas ruas das cidades brasileiras começaram a desfilar cabeças femininas rapadas, cobertas por turbantes.
Desconheciam que a família real, na travessia do Atlântico, fora atacada por uma epidemia de piolhos que ninguém conseguira dizimar. O corte de cabelo radical e o turbante tinham uma história que, obviamente, ignoravam.
In illo tempore, amigos íntimos dos piolhos eram os percevejos e as pulgas. Alimentavam-se igualmente de sangue. Escondiam-se nas fissuras das camas e só saíam à noite para picar, picar, picar e sugar, sem dó nem piedade, as vítimas.
Diz-se, na Guarda, que no início do século XX, numa pensão da cidade, instalou-se um amigo do delegado de saúde. De manhã, lamenta-se: “Esta noite, meu amigo, matei dez percevejos.
- Esta noite? Na pensão…? Dez percevejos? Só? O Senhor é um pexote!”
A falta de higiene era real. Nas casas dos meios não urbanos, não havia água canalizada; o saneamento básico alargado acontece depois de 1974. Os banhos eram raros. Os médicos eram testemunhas privilegiadas da penúria; algumas pessoas que os consultavam nunca tinha tomado banho.
E os professores repreendiam:
- “Ó homem, então não tomaste banho, no fim de semana?”
Respondia o miúdo: “Eu não sei nadar!”
Paraíso maior de pulgas e percevejos, só o DDT se revelaria um exterminador competente. O colchão de arame que substituiu os de palha centeeira e os de folhelho, foi outra vitória na luta contra estes bicharocos…
- “Lembro-me do tacho com água a ferver deitada sobre o colchão e nos interstícios das camas, e depois muito álcool para desinfetar e matar os bichos...”
Eram tantos os percevejos, as pulgas! E muitos, muitos piolhos que democraticamente ocupavam as cabeças de tudo quanto era gente! Por isso, os mais pobres com saber de experiência feito, quando os criticavam por terem piolhos sugerindo falta de higiene, asseguravam: “Piolhos? Só os Santos não criam!”

09/10/2019
 

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