João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
E ACONTECEU AQUILO QUE, atrevo-me a escrever, ninguém adivinharia depois de uma campanha acompanhada de sondagens que mostravam uma disputa taco a taco entre os dois principais protagonistas. Com resultados que apontavam para empate técnico e que encheram de euforia as hostes laranjas já a antecipar uma muito possível vitória. Essa expectativa foi completamente defraudada pela resposta dada pelos eleitores nas urnas. E aconteceu o inimaginável, uma maioria absoluta para o PS, que António Costa pediu durante algum tempo, estratégia que a quase generalidade dos comentadores considerou um erro, considerando que os portugueses fugiam de maiorias absolutas como o diabo da cruz, lembrando experiências anteriores. Sempre considerei esta teoria não provada, e já o escrevi aqui, porque uma maioria absoluta qualquer um a pode pedir, os eleitores na sua reflexão autónoma poderão considerá-la merecida ou não. E foi isso que aconteceu agora com um rotundo sim de confiança em António Costa. Resultados que foram uma hecatombe para o PSD e para os antigos companheiros de geringonça do PS. Foram umas eleições de resultados surpreendentes e alguns bem dramáticos, que deixaram completamente baralhados tantos comentadores que há ainda poucos dias tanto elogiavam a performance e estratégia de Rio quanto criticavam a de Costa, para agora com a mesma cara dizerem o contrário. O BE e o PCP tiveram o resultado que se adivinhava. E bastava ver a reação de populares que nos mercados e nas ruas confrontavam Catarina Martins com as suas responsabilidades, na queda do governo e na ascensão da extrema direita. E claramente que nem em parte do seu eleitorado mais fiel, cola a acusação de que foi o PS que quis ir para eleições. A maioria absoluta surpreendente pode ser explicada por vários razões. Como a da grande mobilização do eleitorado de esquerda no voto PS para combater um eminente influência do Chega na governação. O que resultou numa diminuição da abstenção, prova de que a nossa democracia está bem e recomenda-se. Outra razão, tão forte como a anterior, é a de que a grande maioria dos portugueses, no atual contexto, não quiseram trocar o certo, que incluiu um eficaz combate à pandemia e a todos os seus efeitos, pelo incerto que parecia ameaçar o SNS e outros serviços e apoios sociais tão caros aos portugueses. Enfim, umas eleições que serão certamente históricas pela ampla maioria absoluta conquistada por António Costa. Pelos resultados obtidos por um partido como o Chega que, acredito, esvaziará numa legislatura onde a estabilidade está garantida, bem sabemos que estes partidos se alimentam das crises. Umas eleições históricas que ditaram a saída de cena parlamentar de um partido fundador da democracia, aquilo que será provavelmente o fim do CDS. Também marcadas pela confirmação do Livre que garante a entrada de Rui Tavares, uma garantia de qualidade nos debates da casa da democracia. E finalmente, umas eleições que vão exigir ao PSD uma penosa travessia no deserto, a exigir uma profunda reflexão e, atrevemo-nos a dizer, mesmo uma reconstrução. Porque para a democracia é importante que tenhamos um PSD forte e capaz de ser alternativa credível.