Valter Lemos
CHAMEM A POLÍCIA!?
Uma investigação jornalística veio revelar que mais de quinhentos elementos da PSP e da GNR têm usado as redes sociais para divulgar posições racistas e xenófobas, além de atitudes agressivas e ameaçadoras com titulares de órgãos de soberania e outros políticos, entre os quais o primeiro-ministro.
Alguns responsáveis sindicais daquelas forças de segurança, em reação à divulgação dos casos, ainda tentaram apresentar aqueles atos como sendo meros desabafos inconsequentes decorrentes das más condições de trabalho dos agentes de segurança.
Mas, o problema é que, mesmo como desabafo, ameaçar a integridade ou a vida de alguém, é crime punível na lei. Agravado quando quem faz a ameaça é portador de armas e mais ainda quando é agente das forças da própria lei.
É verdade que os agentes das forças de segurança estão mal pagos, mas também estão os professores, os médicos e os enfermeiros. Tal não lhes confere qualquer direito de ameaçar ou discriminar os alunos, os doentes, os familiares ou os governantes.
Os polícias e guardas exercem uma função muito importante na sociedade. De tal forma que são as únicas pessoas a quem é legalmente permitido usar armas. A sociedade deposita a sua confiança nesses homens e mulheres para a proteção de todas as pessoas e bens. E isso exige deles um comportamento cívico irrepreensível. Têm de estar sempre do lado da lei e não contra a lei. Têm de estar sempre do lado da proteção e não da agressão. Sempre do lado da defesa dos direitos, liberdades e garantias e nunca contra os mesmos.
Quem não for capaz de cumprir esses deveres está na profissão errada. A função dos elementos das forças de segurança não é só fazer cumprir a lei. É, em primeiro lugar, cumpri-la. Sob nenhum pretexto é admissível que um polícia, não só nos atos como nas atitudes, se comporte como um bandido ou um fora-da-lei. Para que os cidadãos nele confiem e respeitem a sua ação.
Obviamente que os polícias devem ter condições para o exercício da sua atividade. E devem ter direito de lutar pela melhoria dessas condições. Mas essa luta não pode incluir a violação da lei ou a ameaça aos cidadãos ou às instituições.
Claro que todos sabemos, felizmente, que os casos denunciados na comunicação social não respeitam à maioria dos agentes. Aliás isso foi referido por responsáveis políticos das forças de segurança. Mas, ainda assim, os casos denunciados são demasiados. Centenas de agentes envolvidos é uma situação que não pode deixar de causar preocupação. E isso suscita legitimas dúvidas sobre a administração e gestão das instituições. Afinal as direções e comandos das mesmas já conheciam ou não a situação? Se conheciam e não agiram é muito preocupante e se não conheciam também é preocupante, dado que estava exposto nas redes sociais. O facto das direções da PSP e da GNR não terem dado qualquer explicação pública deixa pendente alguma intranquilidade sobre as respetivas atitudes face ao problema.
Os órgãos de comunicação social que divulgaram os factos também se referiram a uma possível infiltração política organizada nas forças de segurança a qual estaria eventualmente na origem ou no desenvolvimento da situação. Claro que tal situação, a existir, torna as palavras, os atos e os possíveis “desabafos” dos agentes envolvidos, ainda mais graves e preocupantes. Porque usar as forças de segurança para as tentar envolver no combate político é profundamente irresponsável e perigoso, além de ilegítimo e ilegal.
Portugal é um país com poucas riquezas, mas, de acordo com as estatísticas internacionais, a maior riqueza parece residir no facto de ser o terceiro país mais pacifico e seguro do mundo. E os portugueses querem continuar assim. Construímos uma sociedade pacífica, tolerante e segura, invejada por muitos outros. Não queremos destruir essa riqueza!