João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ESTES DIAS TÊM SIDO UM VIROTE de notícias da frente da guerra, que ainda mais ocupou as primeiras páginas por ter passado um ano sobre a tal operação especial, que o agressor acreditava ser uma guerra, perdão, uma operação relâmpago. Passado um ano de atrocidades, muitos milhares e milhares de soldados e civis mortos e famílias destroçadas e separadas, estamos claramente num impasse de que não se vislumbra sequer uma remota hipótese de solução.
Enquanto no campo de batalha as conquistas se fazem e se festejam por centenas de metros, em guerra de trincheiras com lutas quase corpo a corpo a fazer lembrar outras guerras, espera-se pela contraofensiva da primavera que na Europa chegou ontem, dia 20. E há a decisão histórica do Tribunal Penal Internacional (TPI), criado em 2002 para julgar crimes de guerra e contra a humanidade, que emitiu um mandado de detenção sobre Putin e sobre a comissária russa para os direitos das crianças, acusados de serem responsáveis pela transferência forçada de crianças ucranianas para a Rússia, para “colónias de férias” e para adoção, a pretexto de as proteger da guerra. A decisão do TPI obriga a que qualquer um dos 123 países que ratificaram o Estatuto de Roma que o criou, detenha qualquer um dos dois agora acusados, quando eles pisarem pé no seu território. É um fato que este mandado é de muito difícil aplicação no momento, mas se considerarmos que não expira, no dia em que termine a guerra de agressão, Putin e a sua comissária continuarão inibidos de circular livremente, com a particularidade de a maioria dos países onde correm os riscos de prisão e julgamento serem os mais apetecíveis para um autocrata atraído pela opulência, as grandes capitais e o luxo das estâncias de veraneio europeias.
Entretanto, não sabemos se por coincidência, um dia depois do anúncio daTPI, Putin visita a Crimeia no aniversário da sua anexação e passa pela cidade mártir de Mariupol, hoje ocupada pelas tropas russas. Se na Crimeia se acredita que haja uma maioria russófona, que o recebeu de braços abertos, no caso de Mariupol foi evidente a encenação. Foi uma visita para consumo interno, mostrar aos russos os resultados e a justeza da tal “operação militar especial”.
Finalmente, Putin, ainda ele, começa a semana com a visita do seu amigo Xi Jinping, uma visita de três dias para reforço da cooperação e amizade entre os dois países, passando pela discussão do plano de paz proposto por Pequim e que, num momento de crescente isolamento internacional, cai que nem ginjas a Putin. Ao mesmo tempo que Kiev recebe a visita surpresa do primeiro-ministro japonês, a apresentar a Zelensky a solidariedade e admiração do Japão e do G7. E a fechar com a reunião dos ministros da Defesa da Comunidade Europeia, a decidir pela aquisição em grupo, de munições para a Ucrânia. Por estes dias muita coisa mexeu, e o Mundo está de olhos no conflito, com uma esperança, mesmo que ténue, de que finalmente a diplomacia se sobreponha ao troar das armas.