Edição nº 1786 - 29 de março de 2023

José Dias Pires
VINTE LIVROS NA BIBLIOTOCA – 1

Imaginem uma biblioteca subterrânea à disposição de quem lá quiser ir dormir uma soneca aconchegada.
Não conseguem? Muito bem, vou deixar-vos um resumo dos seus livros, para vos abrir o apetite para uma leitura com os vossos filhos (ou netos).
Depois, se alguma vez quiserem descer até aos subterrâneos, eu dou-vos a morada.
O que a seguir vão ler parece prosa rimada ou rima a fingir de prosa porque está escrito como as histórias contadas no tempo da minha avó.
Feitas as contas, é mesmo muito tempo e isso é que torna tudo mais interessante: as receitas mais antigas são, quase sempre, as mais saborosas e as histórias contadas à moda da minha avó também. Não tenham medo de ler os momentos dos vossos dias: os trabalhos, os descansos, as tristezas e as alegrias, nem receiem escrever em folhas de papeis amarrotados: deem-lhe valor e alisem-no, se se sentirem inspirados. Não tenham medo de ler um sorriso pequenino: ajuda-vos a perceber se é de menina ou menino. Não tenham medo de ler tudo aquilo que vos encanta: uma nuvem esculpida ou um riacho que canta.
Não receiem escrever, com palavras e imagens, as impensáveis viagens que com elas podem fazer. Não tenham medo de ler aquilo que vos rodeia: o esplendor do entardecer e as sombras da lua cheia. Não receiem escrever o que dizem que é proibido: as palavras nascem livres, calá-las não faz sentido. Não receiem escrever o que sentem de verdade: ao fazê-lo vai crescer dentro de vós a liberdade.
Enfim, Nunca deixem hibernar a imaginação.
Seguem-se os dois primeiros livros da BIBLIOTOCA.
A TREPADEIRA DA NOITE E A LUA NOVA — Quando a Lua adormece e se vai esconder no lado do escuro, há uma trepadeira que começa a crescer, a crescer, a crescer até mesmo para lá do muro. Como a cara da lua está escondida para o lado sem luz, a trepadeira cresce sorrateira e tricoteia-se num enorme capuz. Sobe até ao céu, chega-se à Lua, tira-lhe as medidas e faz logo a prova: se servir, deixa-se ficar e transforma a Lua Velha em Lua Nova que vai ter de crescer para poder voltar a brilhar.
O GALHO DE VER O SOL FUGIR ANTES QUE SEJA AMANHÃ. Este é um livro com muita piada. Conta a história de dois irmãos que queriam descobrir o que era a madrugada.
Um deles dizia que a madrugada era um buraco do saco onde a noite se esvazia. A outra, que não, antes pelo contrário: a madrugada era o sol da manhã a entrar pelo dia como a chave entra pela fechadura para abrir o armário.
À medida que noite caía, reparam que a luz da tarde ficava mais ténue a cada minuto que o Sol se escondia.
Para descobrir qual era, de facto, a verdade, treparam à maior árvore que havia na cidade. Foi-lhes difícil conseguir chegar ao galho mais alto. E, lá chegados, olharam o longe, num sobressalto: para lá do horizonte, o Sol já fugia, parecendo esconder-se da tarde para que noite tomasse o lugar do dia.
Boquiaberto, o irmão olhava sem uma palavra. Sentada a seu lado, dizia a irmã: «Agora, este galho só serve para ver o Sol fugir antes que seja amanhã. Mas se aqui voltarmos antes do dia acordar, vamos perceber que a madrugada é a porta que fica no lado oposto, e por onde o Sol amanhã vai espreitar, bem-disposto.»
E assim foi.

29/03/2023
 

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