Edição nº 1875 - 25 de dezembro de 2024

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

HÁ JÁ VÁRIOS DIAS que a “operação especial” que as forças de segurança executaram na zona do Martim Moniz, enche os espaços de comentários e debates nas televisões. Com um coro de crítica de toda a esquerda, e apenas o Chega a apoiar o governo, esta intervenção policial chocou muita gente. As fotos que logo circularam pelas redes sociais, transeuntes da rua do Benformoso no Martim Moniz, maioria imigrantes, encostados à parede para serem identificados e revistados, envergonha Portugal, choca quem tem uma ponta de humanismo. Porque aquelas pessoas não eram criminosas. Eram imigrantes, agora debaixo de toda a suspeita por via da perceção de insegurança da população. Uma “operação especial” (onde já ouvimos isto?) preparada há dois meses, que dá como resultado a apreensão de uma arma branca e alguma droga e a detenção de dois homens, por sinal portugueses, não se pode dizer que tenha sido um sucesso por aí além. Com graça, alguém escrevia que se queriam resultados, era fazerem essa “operação especial” no Cais do Sodré ou no Bairro Alto. O problema é que teriam de encostar muitos turistas à parede, não indianos, timorenses ou paquistaneses, e o caldo estaria entornado com a afamada e lucrativa imagem de Lisboa segura que deu tanto trabalho e euros a criar ia por água abaixo. Aí seria interessante saber se Carlos Moedas também justificaria a intervenção para dar resposta à famosa perceção.
Com a ministra responsável pelo setor da segurança, desaparecida em combate, tem cabido ao ministro da Presidência, Leitão Amaro, e ao primeiro-ministro Luís Montenegro fazer a defesa desta estratégia que assumidamente visa criar “visibilidade e proximidade” no policiamento e para aumentar a sensação de tranquilidade dos portugueses. Mas sabe-se que o policiamento de proximidade não tem nada a ver com este tipo de operações. E ninguém contesta que é muito importante, para garantir a segurança dos cidadãos, a presença diária da autoridade nas ruas em patrulhamento que crie também laços de confiança com os moradores. Assim, no afã de ganhar cota de popularidade na direita, parece o governo estar refém do projeto securitário anti imigração do Chega.
Este ou qualquer outro governo democrático não pode ir atrás de perceções, quando são alimentadas pela desinformação e propaganda populistas. Sem desvalorizar as perceções dos seus cidadãos, o que um governo democrático deve ter é uma prática pedagógica e informativa assente na verdade.

24/12/2024
 

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