Edição nº 1895 - 14 de maio de 2025

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

MAIO MADURO MAIO, QUEM TE PINTOU?
Quem te quebrou o encanto, nunca te amou
...cantava José Afonso no seu Cantigas de Maio, obra prima da música popular portuguesa.
Estamos no mês de maio, altura de se festejarem as Maias ou o Maio, conforme as aldeias.
São crenças e festejos pagãs, que em Portugal parecem remontar ao tempo da ocupação romana e que encontramos referenciados de norte a sul, um pouco por todo o território rural (Jaime Lopes Dias na sua Etnografia da Beira dá-lhe um importante espaço na divulgação desta tradição), já que estão associados ao despertar da natureza e à renovação da vida. As origens das Maias residem na sua forte ligação a antigos rituais pagãos, que celebravam o equinócio da primavera e a fertilidade da terra. A giesta amarela desempenha um papel central nesta tradição, até por ser abundante nesta época do ano. Mas outros sítios há em que são diferentes as flores que celebram o maio.
Estes ritos ancestrais manifestavam-se através de atos simbólicos, destinados a assegurar colheitas abundantes e a afastar os espíritos malignos que pudessem ameaçar o bem-estar da comunidade. Sendo uma festa pagã, chegou mesmo a ser proibida várias vezes em Portugal, até através de Carta Régia, uma vez que remetia para celebrações pré-cristãs, já que Maia era a deusa romana da fecundidade. Mas é uma tradição tão enraizada que continua a resistir à globalização. Esta resistência ao desaparecimento demonstra a profunda relevância cultural que estas tradições possuíam para as comunidades. Ainda a semana passada, na aldeia do Peral, Proença-a-Nova, a Feira dos Caprinos tinha também a celebração das Maias como mote.
Na minha vida de moço de aldeia, lembro da mitologia do Maio. No dia primeiro de maio, cada um ia apanhar ramos de rosmaninho florido, ou rosmano como dizíamos, ali o rosmaninho substituía a giesta florida. Com ele tapávamos os buracos da frontaria da casa, para que o Maio não entrasse e fosse comer os chouriços ou fazer outras malvadezas.
Os anos passaram, os mais novos saíram para outras paragens, França, Lisboa… Os mais velhos deixaram de matar o porquinho para fazer chouriços e o rosmaninho deixou de ser necessário para afastar o Maio. Mas havia alguém que teimava em não deixar morrer a tradição. Em cada primeiro de maio, o Rogério, com uma grande braçada de rosmaninho colhido lá para os lados da Azinheira, que todos os dias visitava em pastoreio, ia colocando um raminho em cada casa, na fechadura da porta ou na janela. E foi assim que na minha casa, nunca o maio entrou para comer os chouriços. O Rogério podia ter défice cognitivo e não saber o alfabeto e a tabuada, mas era o fiel depositário dos saberes e práticas ancestrais.

OS ALBICASTRENSES têm o privilégio de ter como presidente da Junta de Freguesia um homem da cultura, escritor de obra publicada, ilustrador, artista, tradutor, educador e um progressista, empenhado politicamente, desde sempre ligado às causas sociais. Se isso não fosse pouco, ainda tem um mandato como autarca que, atrevo-me a dizer, é consensual. Ao Zé Pires (desculpa a informalidade), amigo e colaborador da Gazeta do Interior desde longa data, quero endereçar os meus parabéns pelo prémio de Literatura Infantil Pingo Doce 2025. Como amante da literatura infantojuvenil, já estou na fila para saborear a leitura do teu livro. Um abraço, Zé.

14/05/2025
 

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