João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
QUEM NÃO GOSTA de escrever sobre coisas positivas, sobre assuntos que nos dão otimismo nas andanças do Mundo? Foi isso que pensei, quando decidi trazer para estes apontamentos um episódio a que assisti semana passada. E por coincidência, descobri que por esses dias, dia 13 de novembro, se festejava o Dia Mundial da Gentileza (com letra maiúscula e tudo). Como todos os dias, são dia de alguma coisa, fiquei satisfeito que uma atitude ou comportamento, que envolve o ato de agir com bondade, compaixão e respeito, seja assim lembrado e festejado quando a palavra e o que significa parecem ter caído em desuso. Embora possa ser impulsionada por sentimentos como empatia, ela manifesta-se através de ações concretas e escolhas conscientes de como interagir com os outros. Nas pequenas ações do dia a dia, como dizer “por favor” e “obrigado”, ceder o lugar ou ajudar alguém, cumprimentar com um sorriso. A gentileza não faz bem apenas a quem recebe, mas também a quem pratica, como a ciência já o demonstrou.
Por isso, quando assisti ao episódio de manifestação de gentileza, fiquei feliz e apeteceu-me contar. Nas imediações de uma escola, três meninas de mochila às costas, não mais de 12 anos, caminham pelo passeio. No momento, e distante uns bons metros da passadeira de peões, uma senhora idosa prepara-se para atravessar a rua, com canadiana numa mão e um saco de compras na outra. Uma das meninas deixa o grupo das amigas, aproxima-se da senhora, retira-lhe o saco da mão e acompanha-a na lenta travessia da rua. Diz-lhe alguma coisa, a senhora aponta para o prédio em frente, leva-a até à porta e regressa para junto das amigas que a esperavam. O sorriso que na despedida trocam as duas protagonistas, traduz toda a bondade e gentileza do Mundo.
Gentileza ou empatia é coisa que não abunda, é coisa rara, nas redes sociais que é o mundo fechado onde vivem cada vez mais cidadãos. Esta semana, um homem, numa rua de Castelo Branco, foi vítima de morte súbita. Nos comentários à notícia, entre quem comentou a falta de segurança que se vive na cidade e a atribuição de culpa a imigrantes, houve de tudo. Uma amiga minha ficou horrorizada, quando na notícia da morte da cidadã grávida, cabo-verdiana e do seu bebé recém-nascido contabilizou mais de 300 reações com o emoji que simboliza o riso e satisfação. A mulher, residente em Portugal, tinha ido ao hospital com um pico de hipertensão, mas foi mandada para casa. Horas depois, regressou ao hospital em paragem cardiorrespiratória.
Gentileza ou empatia é coisa que não abunda em alguns dos nossos dirigentes. Veja-se a ministra da Saúde e o seu comportamento no caso atrás descrito. É inadmissível e manifesto desumanismo o que, na posse de possível informação incompleta, sobre o caso disse. Uma manifesta falta de compaixão e gentileza, por inferir desde logo uma situação de imigração ilegal, alguém que nem telemóvel tem, conhecer mal a nossa língua e nem dinheiro ter para recorrer ao privado. Depois de ter a informação completa e correta, o mínimo que poderia ter feito era ter pedido desculpa à família, coisa que não fez. Talvez porque tenha por guia, a tal personagem que nunca se engana e raramente tem dúvidas.