Ecos do Trajecto seguido de Passo a Passo
António Salvado dá mais um passo
A apresentação do novo livro do poeta albicastrense António Salvado, autor de dezenas de títulos e um percurso intelectual imenso encheu de público o Salão Nobre da Câmara de Castelo Branco, para ouvir poemas de Ecos do Trajecto seguido de Passo a Passo, ditos por Maria de Lurdes Barata e Costa Alves.
Com a chancela da A23 Edições, a apresentação da nova obra de Antóni Salvado, foi feita por Fernando Paulouro que começou por referir que “há tempos, pediram-me que seleccionasse alguns poemas de António Salvado” e confessar que “a tarefa obrigou-me a viajar pela sua vastíssima obra poética e poisar no prazer da leitura como só a poesia é pródiga, para seleccionar poemas que, de certa maneira, tivessem relação com o lugar primordial da poesia, a Beira, e, ao mesmo tempo, traduzissem o compromisso ontológico do autor com a palavra. Devo confessar que não foi difícil, para mim, proceder a essa navegação, pois recorrentemente (re)visito o lavrar de palavras de António Salvado, no seu longo ofício de paciência de recriação da língua. Já retratei, por mais de uma vez, o que significa esse labor na poesia portuguesa do nosso tempo e o que a consubstancia como aventura criadora única que ilumina o tempo. Vou à procura de palavras antigas, como se estivesse a ver António Salvado, ele e a sua solidão, na densa circunstância do poetar. Palavras minhas, a páginas tantas: “Às vezes, a verdadeira aventura é ficar. E construir, longe das tubas da glória, na solidão do interior português, uma obra, uma biografia, um tempo. António Salvado soube resistir às contingências de “província” (no que este conceito tem de arqueologia mental persistente na sociedade portuguesa), soube pensar o País de dentro para fora, e ter a suprema ousadia – nunca perdoada – de fazer coisas, promover a cultura dentro de uma cidade, numa Região onde o pensamento, não poucas vezes, vive exilado. Muitos fingiram ignorar o seu trabalho, alguns olharam de viés a sua obra. Salvado resistiu a tudo. Se a poesia é o lugar da realização do ser pela palavra, é nesse universo criador onde se unem os dias (Kaváfis) e se aquecem os corações fraternos (Vicente Aleixandre) que encontramos uma biografia feita de versos, que é a vida de António Salvado.»
Uma tónica também sublinhada por Luís Correia, presidente da Câmara, para quem António Salvado faz parte da identidade da cidade e da Região, constituindo um referencial da nossa cidadania cultural nacional. António Salvado foi curto nas apresentações reiterando o seu compromisso com a cidade e com a Beira “com as raízes fisicamente próximas, com o chão verbal dos seus versos: registo telúrico, espaços de maternas águas, terra de flores e de oferendas corporais, que ardem nos instantes”, como disse Fernando Paulouro.