8 janeiro 2014

Celeste Capelo
“Quem não tem paciência para educar, pode estar preparado para trabalhar com máquinas, mas não com pessoas”

Veio-me à lembrança esta frase, que serve de título a esta crónica, e que registei na minha memória, onde perdura há longo tempo.
Falar de educação não é de estranhar, pois foi esta a minha formação e várias vezes tenho abordado este assunto. Hoje volto ao tema, que já foi tratado por doutos especialistas colaboradores da Gazeta do Interior, agora sobre uma prova de avaliação de Professores.
Não creio que esta seja a forma correcta de avaliar os docentes, porque não percebi o que se queria avaliar. A sua competência científica? A sua competência pedagógica ou a sua competência cívica?
Comecemos pela 1ª – competência científica. Penso que se fosse esse o objectivo teria de ser feita uma prova diferenciada de acordo com a área específica de cada Professor e de acordo ainda com o grau de ensino para o qual têm a habilitação para leccionar.
2ª Competência – Pedagógica. Esta teria, como já foi em tempos idos, ser testada no início, ou melhor, antes de se iniciar a formação docente. É assim na Finlândia onde a selecção dos candidatos ao curso de Professor é muito rigorosa e com resultados à vista. A frase que dá o título a esta crónica é bem elucidativa desta necessidade.
Competência cívica – essa, infelizmente ficou bem patente nas atitudes que alguns docentes manifestaram no dia da realização da prova. Não concordam? Estão no seu direito. Até podem ter razão, e certamente até têm. Mas o seu estatuto, cada vez mais degradado é certo, não permite esse modo de agir, e contribuiu por certo para desvalorizar ainda mais a nobre função docente.
Penso que neste contexto actual, o MEC deveria preocupar-se com a inadiável reciclagem de docentes no activo, com a reestruturação do ensino e uma boa formação de base que começa na Educação do pré-escolar, como há dias dizia o ex-ministro de Educação Prof. Eduardo Marçal Grilo, falando na 21ª Conferência SInASE no inicio do mês de Dezembro passado.
Para ilustrar o que digo refiro apenas o caso da colocação de uma Profª habilitada para a docência no Ensino Básico, variante Educação Visual e Tecnológica, que tem estado há 12 anos a leccionar esta disciplina no 2º ciclo do Ensino Básico, e que este ano lhe foi atribuída uma turma de 1º ano do 1º ciclo. Obviamente que não está preparada para fazer uma das coisas mais difíceis, que é o ensino da leitura e da escrita a crianças de 6 anos de idade. Acontece também com Professores da variante de Educação Física.
É por isso que recordo o que Alice Vieira disse um dia a propósito da sua obra literária e cito: (…) “os bestsellers dos anos 80 que me levavam às escolas para falar com miúdos do 6.º ano, agora são os mesmos que me levam para falar com miúdos do 12.º ano”. Diz ela: (…) os livros que concebi para miúdos de 13 anos, estão a ser lidos e trabalhados por miúdos de 17, no âmbito das escolas. O que vou fazer? Pelo menos que os apanhemos aos 17, se não estes livros para 13 anos vão ser mais tarde ou mais cedo trabalhados na universidade ou em doutoramentos e eu vou ser chamada para falar com adultos marmanjões que deviam ter entendido isto aos 13 anos de idade” (…)
A observação de Alice Vieira demonstra que temos estado, desde há muito, a recuar, que os nossos jovens aprendem cada vez mais tarde o que deviam aprender muito mais cedo.
Ora isto não é culpa dos Professores. É antes essa ideia errada, geradora de ignorância e desumanização, que está afinal, no âmago da genética do “eduquês”: desvalorização do conhecimento, horror ao mérito, ideia social e humanamente aviltante, de que a ignorância, mesmo do mais básico, podem ensinar, valorizar, criar, realizar seja o que for.

08/01/2014
 

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