16 de março de 2016

Lopes Marcelo
A COMUNIDADE: ARCA DE NOÉ

Para além de um território comum, o que transforma uma população que reparte entre os seus membros tarefas produtivas e funções sociais visando objectivos comuns - numa Comunidade, são os laços e os valores colectivos, quer do passado (a sua história), quer os Projectos (o seu futurto). Laços afectuosos e valores essenciais de solidária entre-ajuda, tornam uma comunidade mais viva e dinâmica na auto-estima da sua Identidade cultural e tendo cada pessoa, sobretudo as mais frágeis e necessitados, como o seu principal património.
Vivemos um tempo de ansiosas pressas, do usar, descartar e deitar fora, da competição pelo êxito a todo o custo, visando consumir mais bens materiais. Parece ser uma sociedade de progresso. Contudo, é-o de fachada já que as rupturas, os desequilibrios, os deserdados sem voz nem autonomia, sem afecto e companhia, aí estão a exigindo respeito e respostas válidas, em Comunidade.
Uma dessas respostas, gerada em conjugação de esforços e boas-vontades, de persistente empenho e dedicação que já conta duas décadas, é a Associação de Apoio à Criança do Distrito de Castelo Branco – AACCB. Foi criada em 1996 com a missão de desenvolver actividades de apoio à população com deficiência intelectual e/ou doença mental, já que muitas famílias não encontravam no ensino regular os apoios educativos que os seus filhos com deficiência precisavam (terapia da fala, terapia ocupacional e apoio psicológico). Foi designada de Associação de Apoio à Criança, sem referência à deficiência, com o objectivo de não estigmatizar socialmente as crianças que apoiava. Começou com actividades de ocupação de tempos livres e ateliês de porta aberta, actuando em rede com o apoio da Fundação Gulbenkian e do IPJ. Em articulação com o Serviço de Psiquiatria do Hospital Amato Lusitano foi criado um Centro de Actividades Ocupacionais destinado a jovens e adultos com deficiência grave e profunda e pessoas com doença mental. Em face das características dos utentes e das dificuldades das famílias, a Associação criou em 1997 a resposta social de Lar Residêncial, visando garantir a sobrevivência e o bem-estar de quem estava privado do seu meio familiar, quer por invalidez ou óbito dos pais, quer por graves dificuldades de relacionamento.
Confrontada com necessidades crescentes, espaços exíguos e não completamenta adequados, foi-se reforçando a equipa técnica de apoio e foi desenvolvido um intenso trabalho de motivação e partilha junto das instituições da cidade, sonhando com instalações próprias e adequadas que correspondessem ao intenso e solidário empenho do dia a dia, realisado de coração aberto mas com limitações materiais. O sonho ganhou raízes e cresceu. O Projecto de um espaço polivalente e multidisciplinar foi ganhando forma. E bem estiveram os Responsáveis Autárquicos e da Segurança Social no inequívoco apoio. A culminar um longo e árduo caminho, que os dirigentes da Associação assumiram com coragem e espírito solidário de serviço à Comunidade, foram recentemente inauguradas no Bairro das Fontainhas, as instalações do Centro de Acolhimento e Reabilitação Arca de Noé, tendo lugar neste espaço, todos, independentemente do género ou capacidade. Trata-se de muito mais do que um novo e adequado espaço, pois representou um salto qualitativo a nível da equipa de apoio, tendo sido criados vinte e um postos de trabalho directos e quatro indirectos. Reforçou-se a já multidisciplinar equipa técnica visando uma intervenção eficaz nas vertentes das terapias, da orientação pedagógica e didáctica, do apoio psicológico e das actividades lúdicas e criativas que são tão importantes para respeitar e cuidar da frágil auto-estima dos utentes. Este Centro permite dar apoio a mais trinta utentes em actividades ocupacionais e trinta em Lar. Para além deste novo Centro - Arca de Noé, a Associação tem na Rua Conselheiro Albuquerque trinta e seis utentes em actividades ocupacionais e o Lar Estrela Guia com dez utentes.
Nos nossos dias, em coerência com os valores e os laços de afecto, é cada vez mais decisivo sermos capazes de parar, termos tempo para escutar, ver com o coração e partilharmos o essencial da dignidade humana. E concretizá-lo todos os dias, com o solidário empenho e dedicada missão, como se vive na Associação de Apoio à Criança, constitui uma bandeira que nos cabe a todos enaltecer e ajudar a manter bem erguida.

16/03/2016
 

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