2 de novembro de 2016

Guilherme D’Oliveira Martins
A MAGIA DE ALICE...

Alice Vieira faz da literatura um ato de prazer e de recordação. Lê-la nos diferentes registos que usa com arte, significa encarar a plasticidade das palavras como um modo de nos permitir uma melhor compreensão da vida. É, de facto, da vida que Alice Vieira trata – e tal nota-se especialmente na escrita multifacetada que pratica. Partindo das histórias tradicionais, na linha de Adolfo Coelho e Teófilo Braga, procura ligar o sentido cívico e pedagógico. Compreende, assim, que a melhor tradição popular da narrativa visa educar, instruir, lembrar, alertar, suscitar, dar atenção, prevenir, intervir e participar. É preciso compreendermos a origem desse veio de criatividade. Trata-se de preparar a iniciação à vida vivida, com todas as prevenções necessárias. E se o conto popular causa tantas vezes perplexidade, tal deve-se à obrigação pedagógica. Quando lemos Esopo ou Fedro, Grimm ou Perrault, percebemos que se trata de alertar as crianças e os jovens que se iniciam no mundo contra todos os perigos que a natureza e os homens nos reservam. E Alice Vieira compreende-o bem ao aproximar as narrativas das preocupações do momento presente… Sem iludir ou escamotear a realidade, a autora dá um sentido positivo às lições que pretende transmitir. E que sentido é esse? O da compreensão de que a literatura no seu todo deve constituir-se num espaço com várias entradas, em que o fantástico se une ao real, o maravilhoso ao incerto, o fácil ao difícil…
Estou a ouvir o meu avô Mateus, a dizer-nos a lengalenga da tradição - «Corre corre cabacinha / Não vi velha nem velhinha / Nem velhinha nem velhão / Corre corre cabação»… Nisto o lobo, o urso e o leão não se entendiam, admirados com o inesperado que se estava a passar… E assim, naquelas três ameaças resumíamos os males do mundo, enquanto a esperteza da velhinha salvava o que havia a salvar… E, de um modo despretensioso de que nem se dava conta, podíamos entender que tudo estava em ter respostas inteligentes e em apanhar desprevenidos o lobo, o urso e o leão – erigidos em símbolos das ameaças do mundo… E foi esse relato antigo que encontrei sem uma ruga no texto de Alice Vieira…
A literatura infantil e juvenil tem um papel decisivo na formação das sociedades. Não se trata. Assim, de um compartimento fechado ou à parte, mas de um modo especial de sensibilizar a comunidade para os seus temas fundamentais. A maior parte dos textos da literatura juvenil destinou-se originalmente a todos. Lembramo-nos da fórmula clássica – histórias contadas às crianças e lembradas ao povo… Daí a dificuldade do género literário, uma vez que o público mais jovem é exigente e curiosos – e Alice Vieira bem o compreende, praticando com cuidado a regra de identificação – praticando uma escrita que de facto é para todos.

02/11/2016
 

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