Fernando Raposo
A BRUXELAS, ... ENTÃO DAQUI LHE REMETO UM FORTE “BREXIT”
Para os defensores da saída do Reino Unido da União Europeia, esta “não é uma instituição democrática”. De facto, quando a Comissão Europeia, não eleita, trata os países membros de forma desigual, sendo muito duro com os fracos e brando com os fortes, até os europeístas mais convictos resfriam o seu entusiasmo. Alguns deles até já mudaram de campo e engrossam agora as fileiras dos eurocépticos.
Independentemente do resultado do referendo de amanhã, quinta -feira, dite ele a saída do Reino Unido da União ou a sua permanência, nada poderá ficar como antes, sob pena de a Europa se converter numa “congregação” sem alma em que os países do sul, mais pobres e mais frágeis, se arrastam pelos corredores de Bruxelas, mendigando as sobras dos parceiros mais ricos.
À desconfiança dos europeus numa Europa mais solidária, mais justa e fraterna, não terá sido Indiferente a arrogância e a sobranceria com que os responsáveis da União, a mando dos países mais fortes (o Senhor Schäuble, ministro das finanças da Alemanha, não tem sido discreto nesta matéria) têm lidado com a crise que se abateu, sobretudo, sobre os parceiros do sul, com economias mais frágeis.
E nós, portugueses, e também como nós os gregos e os espanhóis, conhecemos bem os sacrifícios a que fomos sujeitos, depois do rombo, em 2008, do Lehman Brothers, um dos maior bancos norte-americanos e das consequências que teve para o sistema financeiro e económico dos países.
Um povo, em que um quarto da população vive no limiar da pobreza e três quartos dos 2,5 milhões de reformados aufere uma pensão abaixo do salário mínimo, em que a taxa de desemprego jovem atinge aproximadamente os 35% e em que os portugueses no activo, segundo OIT (Organização Internacional do Trabalho), são os que, da zona euro, mais horas trabalham e dos que menos salário recebem, não pode continuar a ser vítima da austeridade imposta por Bruxelas.
Após os anos de governo de Passos Coelho, em que a maioria dos portugueses foi objecto do insulto de Bruxelas, ao ser acusada de “viver acima das suas possibilidades” e foi vítima de uma pesada e brutal austeridade, não podem agora os mandantes da União ameaçar-nos de pesadas sanções só porque a “porra” do défice ficou, em 2015, acima dos 3%.
Diz-se que foi por causa da recapitalização do Banif, que Bruxelas , à ultima da hora, nos obrigou a vender aos espanhóis. Dizem os entendidos que foi um negócio do “camano”, já que os portugueses tiveram de entrar com 3 mil milhões para limpar o lixo que por lá havia, e o Santander o adquiriu, de seguida, a mando de Bruxelas, por 150 milhões. A este propósito, o desabafo do antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos, João Salgueiro, à Renascença, é ilustrativo do despotismo da União. Em entrevista ao programa “Terça à Noite”, João Salgueiro é demolidor: “O Banif caiu às mãos da União Europeia, que «trata as coisas como se fossem o quintal deles” (Sandra Afonso, Renascença, 2 de Março).
Apesar da vigilância indiscreta dos altos funcionários da Troika sobre o cumprimento do programa de austeridade, pomposamente designado de programa de reajustamento, por ela imposto, a banca portuguesa foi ruindo sob o seu (dela) cúmplice silêncio.
A falência do BES é declarada logo após saída da Troika (não fosse ela manchar a dita “saída limpinha”). Os devaneios do BES e da família Espírito Santo já nos custaram para cima de 6 mil milhões, a somar a mais 6 mil milhões do BPN que já vêm de trás. Se as contas estiveram certas, os contribuintes já desembolsaram pelo menos 15 mil milhões. É só fazer as contas: BPN – 6 mil milhões, mais outro tanto do BES e mais 3 mil milhões do Banif.
Ainda a procissão vai no adro e já se avançam números sobre a necessária recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Não menos de 4 mil milhões, dizem alguns, aos quais terão de se juntar, pelas contas de Miguel Sousa Tavares, mais “3 mil milhões em injecções de capital e empréstimos do Estado” (Expresso, 10 de Junho último). A conta para os contribuintes está a ser demasiado pesada, pois já vai em 22 mil milhões. É só fazer as contas: BPN + BES + Banif + CGD = 22 mil milhões.
Sem pretender suscitar qualquer alarmismo, devemos estar preparados para o desfecho do Novo Banco, que, ao que dizem, é um sucedâneo do velho.
Afinal de contas, andou alguém a viver acima das suas possibilidade, mas não a grande maioria dos portugueses.
Por isso, se a União Europeia insistir em aplicar sanções ao país por não ter cumprido a meta prevista para o défice, sabe bem a quem endereçar a nota de culpa. Caso insista em culpabilizar os portugueses e, como nós, os gregos e os espanhóis, pela crise da Europa, então daqui lhe remeto um forte “BREXIT”.