20 de dezembro de 2017

Maria de Lurdes Gouveia Barata
DEAMBULAÇÃO PELO NATAL DE 2017

Mas eu canto dezembro
porque n’ele se beija a terra
com a humildade maternal que protege o amor.
Quem nasceu?
ANTÓNIO SALVADO

Foi quase ontem o Natal de 2016 e o calendário indica-nos o Natal de 2017. Fico surpresa, porque cada vez mais sinto o tempo a escapar-se entre os dedos como areia de ampulheta. Eu também gosto de cantar Dezembro como o poeta em epígrafe, apesar de embirrar com os dias curtinhos de sol, faz-se logo noite… que irritante teimarem na mudança da hora… Mas como há sempre dois lados da moeda, a noite a descer cedinho traz a este Albicastro as luzes azuis e brancas que a vestem de sedução para os olhos. Há os tapetes de folhas na avenida do liceu, que me trazem dezembros de estudante a arrastar propositadamente os pés para ouvi-las farfalhar sob os sapatos. Chamo os Natais de infância na aldeia, escura como breu lá fora, iluminada lá dentro à lareira, espreitando a caldeira das filhoses que bronzeiam.
Passo para este Natal de agora, seguindo os dos últimos anos com muita publicidade feérica de cor, luz e canções, algumas com adaptações irritantes, com as mesmas corridas de rua em compras e compras, natal comercializado, com tempo de satisfação para os comerciantes e tudo fica engolido por um vórtice de tempo extenuado, corrida de compra e venda de Natal, trabalho de espreita de polícia e perigo de multa por causa do carro parado em segunda fila.
Há muitas árvores de Natal e presépios ao vivo, falta aquele musgo do presépio pequenino que se ia completando ano a ano com mais figurantes. Ouve-se que o Natal é falso e fútil, e talvez seja um dos lados da pirâmide, que, lá do cimo do vértice, perto do céu, guarda as estrelas mais cintilantes que piscam o amor e a fraternidade. Mas estão lá muito no cimo para muitos homens.
Já que a caneta correu em digressão por este Natal de 2017, acaba de tropeçar numa pedra atirada para a via deste tempo: um indivíduo acaba de acender uma fogueira (e não é o madeiro de Natal) ali numa parte do mundo… O nome de má fama famigeradamente conhecido por Donald Trump ateou rastilhos de discórdia no Médio Oriente, afinal uma discórdia entre todos os que habitam o planeta, com o atrevimento de resolver que a capital de Israel é Jerusalém e não Telavive. Mete o nariz onde não é chamado… Anda por aí a pensar sozinho e a sua cabeça é altamente pensante em perigo de disparate… Provoca-nos estremecimentos como quando provoca a Coreia do Norte (onde vive outro pensante-sozinho de arrogância voraz…). Mas quero afastar-me destes indivíduos na minha deambulação…
Comecei por falar de Dezembro, associando-o sobretudo ao Natal, e por aqui quero caminhar, porque é caminho que, apesar de tudo, reverdece um pouco a esperança de dias melhores sem seca, sem fogos assassinos, sem indiferença perante as mudanças do clima, sem cobertores de cartão dos sem abrigo, sem guerras, sem corrupções que nos enervam e nos revoltam, sem desigualdades gritantes, e…
A Avenida Nun’Álvares encheu-se de troncos de árvores bordados de luzes que emprestam a magia de caminhar nesta terra e nesta Terra que é a casa do homem. É Natal!

20/12/2017
 

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