21 de fevereiro de 2018

Lopes Marcelo
A CULPA É DO RIO?

Das questões que se nos impõem pela sua importância e relevância social colectiva, as vertentes e os problemas do meio ambiente são fundamentais porque são a base da vida. E destas questões, é das mais essenciais a vida de um rio!
E o que dizer de um grande rio? Eixo estruturante de territórios, linha de fronteira aqui bem perto de nós, estrada líquida atractiva das populações no evoluir das civilizações: o nosso Tejo! Sim, o nosso grande rio, elo de ligação e sustento das comunidades ribeirinhas. Sim o Tejo, fonte de vida, está a morrer! E não é de morte natural! Estão a matar o Tejo e com ele morremos também todos nós um pouco! Este é um grande problema a que não podemos fechar os olhos e que interpela a nossa consciência cívica, social e cultural.
Há várias dimensões desta delicada questão. Contudo, o que mais interessa é analisá-la com bom senso e os olhos bem abertos para a realidade. Há a dimensão técnica e muitas discussões e polémicas ocorrem sobre a responsabilidade das fontes poluidoras. É hoje reconhecido que há tecnologia, meios e soluções técnicas para que a enorme quantidade de água que é recolhida pelas empresas e que depois dos processos produtivos é devolvida ao rio, o seja sem poluição química ou orgânica que comprometa a vida do rio. Então, se há conhecimentos, competência e capacidade técnica, o que tem faltado? Faltaram os investimentos adequados e realizados preventivamente! Mas, as empresas não têm recursos financeiros para tais investimentos? Não têm dezenas de milhões de Euros de lucros todos os anos? Contudo, ano após ano, fecharam os olhos e alguns poucos acumularam lucros, alavancaram negócios à custa da progressiva morte do rio, um recurso colectivo, de todos nós! Sim, que a poluição não é só de agora. Ano após ano, foi-se depositando no fundo do rio. Que o fundo do rio é já uma “alcatifa” de detritos poluidores, bem o mostram as filmagens directas. Quando já não há espaço para fixar mais detritos, vêm à superfície e mostram-se! Ora que grande contrariedade, que grande problema! E foi, é mau de mais! Diz o povo, que o pior cego é o que não quer ver! Os donos e os responsáveis das empresas não quiseram ver! Os responsáveis políticos, quer autárquicas, quer do governo, e autoridades técnicas não quiseram ver a tempo e com eficácia. Viam-no os pescadores e os habitantes ribeirinhos. Mas como diz José Saramago, em terra de cegos que tem olho corre o risco de ser apontado como deficiente! E foi assim que trataram quem, com coragem e verdade, não se calou e foi denunciando a poluição do rio.
A poluição do rio não é neutra! Serve interesses! É problema social? É! É problema político? É! É problema cultural? É! É problema produtivo? É! Então, todos os que têm responsabilidades, abram os olhos, falem verdade e actuem hoje face à emergência do desastre ambiental e, também, todos os dias no futuro, se querem que haja futuro. Temos que exigir que o futuro não fique nas mãos e nas carteiras de alguns poucos, quando é a vida de todos que está em causa!
Não é só na altura de festas e nas inaugurações de novas empresas que, autarcas, ministros e investidores, todos de braço dado se alegram a cortarem as fitas para depois as tristezas ficarem para os outros, que são a maioria mas quase sempre silenciosa! Não fossem os órgãos da comunicação social e os dias se sucederiam, na paz podre do rio, sem a angústia da evidência da espuma da verdade a cobrir o rio!
A quem tem ganho, ano após ano, com a poluição do rio, têm que ser exigidas respostas concretas e eficazes. Quem tem de fiscalizar, fiscalize. Quem tem poder exerça-o. Quem tem voz que não se cale. Quem é responsável pelo território e o bem-estar das populações, dê a cara. Ou acham que a culpa é do rio?

21/02/2018
 

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