Sobreira Formosa ouve cantar pelas almas do purgatório
O ritual da Encomendação das Almas repetiu-se na noite de dia 23 de março, em Sobreira Formosa, com a presença dos grupos do Concelho de Proença-a-Nova que ainda mantém viva esta tradição. Assim, estiveram presentes os grupos de Atalaias, Galisteu, Corgas, Cunqueiros, Chão do Galego e Vergão, aos quais se juntou um grupo convidado do Rosmaninhal, de Idanha-a-Nova. Devido às condições meteorológicas a iniciativa aconteceu no interior da Igreja Matriz, e não no Largo da Devesa, como estava inicialmente previsto.
Esta é uma das diversas iniciativas que a Câmara de Proença-a-Nova promove ano após ano com o objetivo de preservar este património imaterial e que será candidato a Património Imaterial da Humanidade, assim como a tradição de cantar as Janeiras. Esta iniciativa contou ainda com a presença do antropólogo Pedro Antunes, que desde o final do ano passado reside na aldeia de Corgas, para realizar a sua tese de doutoramento sobre a temática.
As mulheres, vestidas de negro e com a cabeça coberta por um lenço igualmente preto, sinal de luto pelos mortos e de preceito quaresmal, entoaram os cânticos tristes onde pedem pela salvação das almas que estão no purgatório para que passem à Glória. No caso do grupo do Rosmaninhal é composto por homens e mulheres, com a mesma intenção: “Cristãos que estais dormindo, nesse sono tão profundo, levantai-vos e rezai, às Almas do outro Mundo”, lê-se na letra da oração.
Na maioria das aldeias do Concelho este ritual já se perdeu há muitas décadas, consequência da falta de pessoas mais novas para lhe dar continuidade. Apenas na aldeia de Corgas esta tradição se cumpre todos as noites de quaresma. Em Atalaias, Corgas e Galisteu as letras destas orações são bastante distintas, enquanto em Chão do Galego e Cunqueiros cantam-se as Excelências, com letra idêntica. O culto pelas almas do purgatório é um ritual bastante presente na cultura popular no Concelho. Além da Encomendação, outro exemplo é a existência, um pouco por todo o Concelho, à entrada das povoações, nas encruzilhadas das estradas ou dentro das aldeias em locais de destaque, das Alminhas, lembrando a quem passa que as almas do purgatório precisam de uma oração para passar a glória. Quem passa reza e deixa a esmola que depois servem para mandar rezar missas.