João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
COMO JÁ SE ADIVINHAVA, o caráter imprevisível, imaturo e egocêntrico do presidente Trump trouxe a insegurança mundial, o cheiro a guerra, logo no início de 2020. A decisão que partiu do próprio presidente de mandar matar Soleimani, um dos dirigentes de topo da hierarquia militar iraniana, veio incendiar a região. Como escreveu Obama, a decisão da Casa Branca foi como lançar dinamite num barril de pólvora. Foi uma atitude autocrática, sem se sentir na obrigação de informar o Congresso sobre uma decisão que pode fazer mergulhar os Estados Unidos numa nova guerra. E uma atitude autocrática porque não quis saber dos seus aliados para nada, sendo hoje uma figura isolada no cenário político internacional, algo que não o preocupa por aí além. O assassinato de Soleimani foi uma provocação, provavelmente um incidente que Trump desencadeou para resolver problemas internos relacionados com o processo de impeachment e as eleições presidenciais deste ano. Escudou-se nas informações que possuiria de que o dirigente iraniano estaria a preparar ataques a embaixadas americanas, hipótese que o próprio Pentágono coloca sobre fortes reservas. Mas para Trump isso que importa, ele sabe que os seus fieis e acríticos seguidores aceitam todas as mentiras desde que venham dele, como se adivinha pelos contínuos comícios sobre que tem construído o seu mandato presidencial. Não foi ele que disse numa ocasião que o seu eleitorado não o abandonaria mesmo que desatasse aos tiros na quinta avenida, em Nova Iorque? No ziguezague a que já nos habituou, depois dos tiros, vem com discurso conciliador a que o Irão respondeu também com algum apaziguamento. Fica-se em suspenso até à próxima investida, mas entretanto irremediáveis são já os efeitos colaterais que provocaram 176 mortos no ataque por engano das enervadas forças militares iranianas a uma avião comercial, confundido com alvo inimigo. Incidente que enfraqueceu, de que maneira, a posição dos lideres religiosos do Irão que estão a enfrentar uma contestação nas ruas como até agora nunca vista. E Trump a rir-se e a esfregar as mãos porque tudo isto reforça também a sua posição no plano interno. Caso para dizer que todos os diabos têm sorte.