Lopes Marcelo
A TERRA, CASA COMUM!
No início de mais um novo Ano, deixo aos leitores uma janela de reflexão sobre o nosso futuro comum.
A Nave Terra não navega sempre em estradas de luz, em oceanos prateados pela luz doce e serena da sempre companheira Lua.
Há momentos, estações de penumbra e até de escuridão, em que o génio humano se desclassifica e se perturba, tornando-se predador da vida que o rodeia e, até dos seus semelhantes. Por raiva e vingança, a coberto de interesses inconfessáveis, de uma ideologia ou de uma religião, tudo é sacrificado ao serviço egoísta da desmedida ambição de riqueza e de poder. Então, o lugar, a geografia da caçada, torna-se um ruidoso palco de encenada intervenção, em que a natureza é destruída e seres humanos morrem estúpida e inutilmente, ampliando-se dolorosamente a memória da grande maioria de cidadãos anónimos.
Nervosamente, apertam-se as mãos dos circunstanciais comandantes da Nave Terra, agarradas ao que consideram os seus lemes, feitos de aço e outros metais letais em forma de bombas de energia exponencial em ameaças cada vez de maior amplitude e, até, universal. E, em tais sofisticados lemes, qualquer oscilação ou desentendimento gera conflitos e, mesmo, guerras. As mãos e, sobretudo, os corações ficam frios e insensíveis com os comandantes cada vez mais especializados em guerras ao serviço dos grandes interesses e manobras do xadrez político. E a nave Terra, limitada e agredida, soluça, espirra cada vez mais febril, em balanços agitados, em convulsões, desastres naturais, que os responsáveis teimam em não entender, em não resolver, apesar de em cada convulsão as consequências negativas serem cada vez maiores e a população indefesa sofrer, ficando sempre mais pobre e desamparada.
É preciso ver mais longe e para dentro de nós próprios, em direcção ao coração do tempo, abrindo a nossa consciência à energia vital que impulsiona a nave Terra. Somos moléculas agregadas dessa energia, que nos move para a construção do futuro. Que o rio da memória, do sentido evolutivo da civilização nos impulsione na solidária partilha dos sentimentos e dos valores mais simples e fundamentais que são de todos.
A nave Terra, como lar único e comum, abriga tantos e variados géneros e tipos de vida, infinitas formas, incontáveis matérias habitadas de energia, que o equilíbrio da viagem tem que ver com todos os seres e é para todos. Só um coração solidário entende e partilha a vida com todos os outros seres, numa cadeia de energia formidável, em equilíbrio ecológico e que só a preservação da natureza pode valorizar vitalmente a nave Terra. A experiência, a divulgação de experiências e de realizações concretas que respeitem a lógica natural da vida deve constituir o património colectivo e iluminar o rumo comum.
A memória colectiva, o entendimento das lições da evolução da Humanidade, sobretudo das crises mais negras e devastadoras, assumidas com dignidade, representam a bandeira da coerente defesa da vida e da construção de um futuro viável e sustentável para o nosso planeta. É preciso que a luz das causas justas não nos encontre indiferentes, frios e opacos, mas antes, receptivos à acção militante esclarecida e empenhada pela informação científica e pela reflexão que se alimente do respeito e diálogo na corrente colectiva da harmoniosa energia universal.