José Dias Pires
COVID 19 - SABER ESTAR DE QUARENTENA, RETIRO, QUARESMA E PAUSA ATIVA
Estes tempos do COVID 19, são tempos de tanta coisa!
Primeiro, de Informação - Tempos de informação pública total e avisada por parte dos que conduzem, coordenam e executam os procedimentos necessários desta luta contra um vírus silencioso que nos enfraquece, mas que, estou seguro, nos há de ajudar a gritar no final, depois de todas as batalhas ganhas: estamos mais fortes!
Segundo, de Cidadania - Tempos de preparação para o exame a uma disciplina não escolar, mas comunitária, da qual tanto se fala e para a qual tão pouco se tem feito (temos feito) de forma verdadeiramente contínua: o exercício da Cidadania.
É um exame que todos somos obrigados a fazer: crianças, jovens e adultos; pais e filhos; professores e alunos; governantes e governados; escritores, jornalistas e leitores; artistas de todas as áreas e espetadores de todos os gostos.
Mas será que todos estamos preparados para o fazer?
O que é que os futuros examinados pensam ser necessário saber?
Que estes tempos do COVID 19 de quarentena, retiro, quaresma e pausa ativa é um tempo de festividade que se repete durante quarenta dias em praias (se o tempo ajudar), bares (se as bebidas se não esgotarem) e lugares de alargado convívio (se não houver quem ponha um fim a isso)?.
Na verdade, muitos dos que deviam saber o que este tempo de COVID 19 nos exige têm as cabeças demasiado limpas (o termo real é vazias). Vazias de informação, vazias de formação, vazias de história e vazias de valores, porque a cidadania da qual lhes falaram não chegou para se tornar em aprendizagem do que é a solidariedade, a compreensão, a entreajuda, a partilha e aceitação de comportamentos mais restritivos que, incomodando o bem individual (mas contribuindo para ele), contribuem principalmente para o bem comum.
Em todos os tempos, mas especialmente nestes tempos do COVID 19, o saber estar de quarentena, retiro, quaresma e pausa ativa devia levar-nos a desejar ter as cabeças (bem) sujas de informação, de formação, de história e de valores; de leituras, de imagens e de melodias enriquecedoras que nos ajudem a ser humanos pertencentes ao Clube da Dignidade Humana e não quase humanos desejosos de se inscrever num qualquer Bando da Banalidade Desatenta e Despreocupada.
Estes tempos do COVID 19 não são nada parecidos com o dilúvio que escreveram ter tido a duração de quarenta dias e quarenta noites e foi a preparação para uma nova humanidade, mas podem transformar-se em algo parecido.
Para quem gosta de caminhadas, também podem ser semelhantes, em dias, aos quarenta anos que o povo hebreu caminhou pelo deserto rumo à terra prometida. A nossa terra prometida é a terra da cidadania ativa que vence o desinteresse interesseiro e passivo.
Estes tempos de quarentena, retiro, quaresma e pausa ativa a que todos devíamos obrigar-nos, não nos exigem penitência, exigem-nos consciência, persistência, paciência e entreajuda para que percebamos o que pode mudar e o que deve mudar na vida de cada um de nós, para que melhore a vida de todos.
Esta mudança é o desafio mais importante que agora se apresenta na vida coletiva e individual.
Entre tantas outras, há uma batalha a vencer que é a de mudar para melhor a maneira de pensar pouco esclarecida, as convicções erradas, os convencimentos que levam a critérios distantes da justiça e da verdade.
Esta mudança, para se poder concretizar, obriga-se a eliminar o que a ela se opõe: a ganância, a mentira, a hipocrisia, a preguiça, o comodismo e o individualismo.
Estes tempos do COVID 19 acontecem num tempo que, infelizmente, já estava seduzido pelo acidental, marcado pela mediocridade, por tudo o que é apenas passageiro, pelo que leva as pessoas a fugir de si mesmas, do que lhes é (ou devia ser) íntimo, enfim, da sua consciência marcada pelo exercício da cidadania.
Tarefa complicada, esta que é uma tarefa de todos e que começa logo pelos responsáveis das comunidades locais, regionais, nacionais e internacionais. Trata-se, portanto, de um trabalho muito exigente e difícil, mas humanamente possível: basta que tentemos ser humanos pertencentes ao Clube da Dignidade Humana e não quase humanos desejosos de se inscrever num qualquer Bando da Banalidade Desatenta e Despreocupada.