João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
PARA OS MAIS DE 850 MIL ALUNOS DO ENSINO BÁSICO, que este ano letivo já não vão regressar à escola para ensino presencial, começou esta segunda feira, através da RTP Memória, uma nova etapa no seu processo de aprendizagem. Foi o Estudo em Casa, um projeto que fez recuar no tempo muito boa gente por lembrar a Telescola, mas com a qual há apenas alguns pontos de semelhança, em especial no suporte utilizado, porque a Telescola, que duraria até aos anos 80, não dispensava o trabalho presencial e interativo com os professores monitores. Agora, efeito do novo Corona Vírus, está tudo em casa. E isso faz toda a diferença. Porque se nos outros tempos, a componente presencial era também ela um pouco socialmente niveladora, agora confrontamo-nos com situações muito distintas que, se não forem tomadas medidas urgentes, vão agravar essas diferenças. Porque não podemos esquecer que há ambientes familiares onde, ao contrário de outros, os pais não têm a escolaridade suficiente para ajudar os filhos, porque há famílias onde não existe qualquer recurso informático, computador, impressora e acesso à Internet para que a criança possa desenvolver as suas aprendizagens. É absolutamente obrigatório que a sociedade responda a estas situações. De qualquer forma, temos de reconhecer e louvar a forma como, sem problemas de maior, se implementou um sistema de ensino e aprendizagem em poucas semanas que, normalmente, demoraria muitos meses a instalar, incluindo toda uma formação contínua de professores que agora não houve tempo para acontecer. O sucesso não decorre tanto dos recursos informáticos mobilizados, antes é o resultado do empenho dos recursos humanos, com os professores na primeira fila, que em muito poucas semanas tiveram de aprender técnicas que não dominavam antes de forma alguma. Por isso não admira que nem tudo corra bem neste ensino à distância, que a sala de aula virtual tropece de quando em vez em situações de indisciplina e mesmo em invasão por intrusos mal intencionados. Indisciplina com que aqui, como na sala de aula de a.V. (antes do Vírus) infelizmente os professores se têm de confrontar, nada que o reforço de segurança das plataformas de aprendizagem não resolva, pelo menos em parte. E não quero terminar sem louvar também a mais de uma centena de professores que aceitaram o desafio da televisão, #EstudoEmCasa. Em muito pouco tempo, sem formação específica nas técnicas de comunicação, aceitaram o desafio de trocar um público de 25 alunos que os avaliam em contínuo, por um público de muitos milhares, ainda mais crítico porque não dão a cara, através de um meio onde qualquer erro ou hesitação é logo apontado. São professores que também eles, à sua maneira, estão na primeira linha do combate. Aos professores, a Gazeta agradece e deseja-lhes sucesso.