ATÉ 31 DE NOVEMBRO
Beija-me com os beijos da tua boca patente na Biblioteca Nacional
A Biblioteca Nacional, em Lisboa, foi palco, dia 1 de outubro, em estreia inédita em Portugal, da abertura da exposição Beija-me com os beijos da tua boca, uma mostra bibliográfica e iconográfica sobre o Cântico dos Cânticos, texto bíblico celebrado como o mais belo poema de amor da humanidade e que tem vindo a marcar indelevelmente a cultura portuguesa. A mostra é constituída por mais de uma centena de obras pertencentes à vasta coleção privada do poeta Gonçalo Salvado sobre o Cântico dos Cânticos, grande influência da poesia deste autor. Nesta coleção privilegiam-se as obras em língua portuguesa editadas em Portugal e no Brasil, algumas de grande raridade e inacessibilidade.
A exposição estará patente até 31 de novembro numa das principais salas da Biblioteca, conhecida como Sala Museu, espaço que permitiu reconstituir a atmosfera, e recriar o imaginário, do célebre poema bíblico do amor, e onde, a par da exposição bibliográfica, há uma vertente iconográfica reunindo imagens emblemáticas que lhe foram dedicadas em Portugal, na pintura, no desenho e na escultura, algumas pela primeira vez apresentadas no contexto deste tema. Está previsto um ciclo de conferências sobre o Cântico dos Cânticos agendado para 2021, com o título Grava-me como um selo em teu coração – O Cântico dos Cânticos, Paradigma Universal da Cultura Portuguesa”.
No dia da inauguração, e apenas nessa ocasião, esteve patente, aberta nas páginas correspondentes ao Cântico dos Cânticos, a chamada Bíblia de Cervera, texto bíblico manuscrito e iluminado, em pergaminho, do Século XIII-XIV, que pertence ao acervo da Biblioteca Nacional destacando-se pela sua antiguidade e excelência, como a mais importante obra do género, existente em Portugal, e uma das mais valiosas do Mundo.
A mostra abriu com as palavras da diretora da Biblioteca Nacional de Portugal, Maria Inês Cordeiro, que começou por referir a importância histórica desta exposição sobre o Cântico dos Cânticos, sublinhada pela presença da Bíblia de Cervera, património mundial da cultura. Em seguida, evidenciou a ligação da exposição à coleção privada do poeta Gonçalo Salvado, enaltecendo o seu trabalho como curador da mesma, visto que transmitiu a toda uma equipa a sua paixão incondicional pelo Cântico dos Cânticos.
Seguiu-se a apresentação do curador que definiu sucintamente o objetivo que norteou esta exposição, que passa por “documentar quase exaustivamente o fascínio que o Cântico dos Cânticos tem exercido sobre a cultura de língua portuguesa nas suas múltiplas vertentes, em secções que representam a pluralidade que preside à sua abordagem”. Chamou ainda a atenção para a presença, entre os convidados, de Monsenhor Arnaldo Pinto Cardoso, historiador e figura proeminente da Igreja, um dos pioneiros estudiosos do Cântico dos Cânticos em Portugal e autor de alguns dos primeiros ensaios de referência sobre a temática em Portugal.
Para terminar a apresentação, a crítica de arte Maria João Fernandes, anunciou o futuro deste projeto, a obra a publicar em coautoria com Gonçalo Salvado, A Chama Eterna, O Cântico dos Cânticos na Poesia e na Cultura de Língua Portuguesa, “uma obra/tese que o define verdadeiramente como o mais fecundo arquétipo do lirismo português, vocação essencial da nossa cultura”. Ao livro ligar-se-á uma grande exposição internacional de Artes Plásticas em tempos proposta à Fundação Calouste Gulbenkian.
Seguidamente, o curador acompanhou os visitantes a uma breve visita guiada à exposição, explicitando o conteúdo de cada uma das secções que exemplificam, entre outras, a influência do Cântico na literatura de inspiração religiosa, passando pelas diversas versões e traduções para a língua portuguesa, muitas delas elaboradas por poetas e a sua repercussão nas distintas linguagens da arte, incluindo a iconografia mais inesperada.
A inauguração terminou com a leitura simbólica, a duas vozes, de um excerto do Cântico dos Cânticos por Gonçalo Salvado e pela poeta Eugénia de Vasconcellos, autora da mais re-cente versão do Cântico dos Cânticos, assinada por um poeta, em Portugal.