Edição nº 1682 - 17 de março de 2021

Lopes Marcelo
O BUSTO, FINALMENTE!

Passados mais de cinco anos em que, sem qualquer explicação da parte da Câmara Municipal esteve remetido para o armazém da Biblioteca Municipal, vai finalmente ver a luz do dia o Busto de homenagem a Francisco Tavares Proença Júnior.
Nas comemorações do centenário da morte do fundador do Museu, ocorrido em 2016, a Sociedade dos Amigos do Museu empenhou-se no sentido de que algumas marcas culturais ficassem a perdurar como memória e testemunho para além das cerimónias e das palavras de circunstância.
Resultou, assim, entre outras, a publicação da peça de teatro “O Farol do Monte de São Martinho”, de que o VAATÃO – Teatro de Castelo Branco assumiu dignamente a respectiva adaptação e representação, e a proposta de que a memória do fundador do Museu fosse perpetuada através de um busto.
Em termos contemporâneos não é suficientemente reconhecida a importância do seu legado cultural. De facto, é bastante generalizado o desconhecimento sobre a sua vida e obra, bem como do papel determinante do jovem dedicado e corajoso arqueólogo na fundamentação da nossa memória histórica e patrimonial. A imagem social que existe na nossa sociedade é a de que numa das mais importantes famílias nobres e terra-tenentes da Beira Baixa, Francisco Tavares Proença Júnior não teria passado de um rico e mimado filho de família. Contudo, ao estudar a sua vida e obra, foi-se consolidando a minha forte convicção de que por detrás dessa generalizada imagem social esteve um jovem talentoso não alinhado com o padrão fútil e boémio de muitos jovens das ricas e influentes famílias da época De facto, na sua curta, mas intensa vida, o jovem Francisco entregou-se com entusiasmo e rigor à pesquisa e ao estudo dos temas que realmente lhe interessavam. Sobressaiu a sua dedicação aos estudos de arqueologia e etnologia. A esta sua verdadeira vocação sacrificou a formação universitária e, contornando a sua débil saúde, dedicou-se aos trabalhos de campo, à recolha e análise de peças e de artefactos antigos, tendo publicado dezenas de artigos de interpretação e de divulgação.
No início do século XX foi um arqueólogo reconhecido, premiado e com intensos contactos internacionais. Na sequência da sua notável participação no Congresso Pré-histórico de Perigueux em 1905, recebeu a honrosa condecoração de Oficial da Instrução Pública, conforme se documenta com a reprodução do ofício do Ministro Francês da Instrução Pública e das Belas Artes. Quando seu pai lhe mostrou como ficara agradavelmente surpreendido com a condecoração, comentou: “Estes prémios concedidos em país estrangeiro valem mais que aqueles que cá em Portugal são dados a quem os quer”.

 Marcelo

Outras distinções lhe foram conferidas: de sócio efectivo da Real Associação de Arquitectos e Arqueólogos; sócio da Societé Préhistorique de France, sócio eleito da Societé Francaise de Fouilles Arqueologiques; sócio eleito do Instituto de Coimbra e sócio correspondente da Sociedade Martins Sarmento.

Seguindo o exemplo dos grandes mestres franceses assumiu como sendo o seu maior projecto a criação e a organização do Museu em Castelo Branco, partindo da doação da sua enorme colecção arqueológica. Concretizou este seu objectivo com total entrega, empenhamento e determinação, praticamente sozinho, mal compreendido pela sociedade da sua época e, até, pela própria família, que na senda dos ilustres antepassados lhe destinava uma distinta e próspera carreira política.
A sociedade albicastrense das primeiras décadas do século passado era muito conservadora e dominada por uma estrutura social marcada por famílias de grandes proprietários rurais. Pontuava uma elite agrária concentrada nos seus interesses e empenhada em intensas disputas partidárias, desligada do desenvolvimento do território e das suas gentes. Francisco Tavares Proença Júnior rompeu com estas amarras, lançando luz sobre o passado da ocupação do território com visão de futuro e contribuindo para a divulgação e apropriação colectiva do património comum. De facto, desde jovem, com uma forte personalidade e vontade própria, tomou nas mãos o seu destino, não correspondeu aos planos familiares e dedicou-se incansavelmente aos trabalhos de pesquisa, embora muito condicionado pela pior doença do seu tempo - a tubérculose - que o obrigou a vários tratamentos na Suíça e o marcou na maior parte da sua curta vida, acabando por vitimá-lo aos trinta e três anos de idade.
Reconhecendo a enorme importância do seu legado cultural, considero que é merecedor de homenagem da parte de quem o reconhece como tendo sido um cidadão culto e corajoso arqueólogo a quem a nossa cidade e toda a região devem a construção fundacional da arqueologia regional. Tudo deve ser feito para que a sua vida e obra sejam mais conhecidas e mais bem divulgadas, sobretudo nas escolas, mas também em toda a nossa sociedade. Assim, o entendam e assumam as instituições com poder de decisão e os responsáveis das entidades culturais, na certeza de que só conhecendo e honrando o passado se pode viver o presente com autenticidade e será possível construir um futuro com coerência e identidade cultural.

17/03/2021
 

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