Edição nº 1684 - 31 de março de 2021

José Dias Pires
RESIDÊNCIAS DE EMOÇÕES

O lugar onde o poeta namora a inspiração tem poemas pendurados nas paredes: imagens das palavras sentidas com que os artistas seus amigos escreveram as memórias e esperam as palavras sensíveis do poeta que as pinta em escrita — Residência de Emoções.
Assim é a mostra da coleção de arte do poeta António Salvado, patente no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, à espera de poder ser visitada quando a pandemia o permitir.
Residência de Emoções será, também, a Casa de António Salvado, espaço que ficará na Rua D’Ega na casa que o poeta ofereceu ao município de Castelo Branco e cuja intervenção recuperadora se prepara e se aguarda.
Nesta casa, cada livro será um recanto; cada poema uma peça de tudo o que a preenche e de tudo o que a mobila; cada memória a luz que nasce de dentro da casa para retomar as emoções básicas, deixá-las fluir, identificá-las, acolhê-las e deixá-las partir com quem na casa entrar.
Na Casa de António Salvado, afinal a casa de todos os que gostamos de Castelo Branco, da arte e dos artistas, especialmente da arte poética da palavra, da pintura, da escultura ou da música, abrir-se-ão janelas através das quais entrarão novas emoções, novos pulsares, novas gentes de todas as idades e lugares.
Nesta casa, sendo de pedra, as suas paredes não serão espessas; sendo altas, não impedirão saber quem serão os seus moradores; tendo as muralhas perto, não terá muralhas que a atabafem.
Nesta casa, serão os livros, os textos, as imagens e os sons que cuidarão das pessoas, para que as pessoas cuidem da casa.
Aqui se abrigará o acolhimento, o recolhimento e o aconchego que são a antecâmara de um bem estar interior e único.
Sendo assim, esta será uma residência de emoções que não pertence — pertence-nos; que não espera — oferece; que não tem limites — está cheia dos horizontes possíveis e imagináveis.
Na residência de emoções que será a Casa de António Salvado não haverá hóspedes, encontrar-se-ão amigos. Todas as manhãs serão manhãs de um novo chegar, de um permanente achegar-se — de um abraçado acolhimento.
A Casa de António Salvado será uma casa de amigos que, em todas as leituras e com todas as escritas construirão, com arte, a sua residência.
Presenças, transparências, perceções, acolhimento, recolhimento, agasalho é assim que se constrói numa casa de amigos, numa casa para amigos, a residência de emoções.
A começar pelo poeta que se ofereceu todo e se entregou tudo, na Casa de António Salvado, onde residem as emoções é certo que o futuro está, perene de vida, no seu passado.
Assim o queiram todos os seus amigos presentes e futuros, presentes e ausentes.

31/03/2021
 

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