Edição nº 1702 - 4 de agosto de 2021

REGIÃO ESTÁ EM CHOQUE - REAÇÕES POLÍTICAS
Pedido de insolvência da Dielmar arrasta mais de 300 trabalhadores para o desemprego

A Dielmar, que está instalada em Alcains desde 1965 e é uma das maiores empresas da Região, pediu na passada sexta-feira, 30 de julho, o pedido de insolvência que, agora, será decidido pelo Tribunal do Fundão.
Uma notícia que caiu como uma bomba, pois a empresa tinha então fechado para férias, estando a sua reabertura prevista para dia 18 de agosto.
Nesta que é considerada uma tragédia económica para a Freguesia de Alcains, para o Concelho de Castelo Branco e para a Região, estão envolvidos mais de 300 postos de trabalho e uma marca emblemática, tanto a nível nacional, como internacional.
A Dielmar fez saber, em comunicado, que “após ter ultrapassado várias crises durante 56 anos sucumbiu à pandemia por um conjunto de situações que foram letais”.
A Dielmar realça que os últimos 16 meses foram “longos e duros” e assegura ter feito “um esforço imenso e solitário” para sobreviver e manter os postos de trabalho.
Opinião que é contrariada pelo Ministério da Economia que, também em comunicado, afirma que “esta situação é anterior à crise provocada pela pandemia”.
O jornal Público noticia que este comunicado foi conhecido «depois do próprio ministro ter deixado claro que o Estado pode perder as ajudas que deu e de aludir a uma “gestão muito pouco clara” como um dos obstáculos à viabilização desta têxtil especializada em alfaiataria».
O Público avança ainda que «nos últimos 10 anos, “várias entidades públicas injetaram cerca de cinco milhões de euros na empresa”, diz o Governo. Há ainda três milhões de euros em dívida cobertos por garantia pública. Este auxílio público “pressuponha uma reestruturação, sendo que a maioria destas medidas não foi aplicada pela Administração da Dielmar”, nota o Ministério».
O diário refere também que “a dívida à banca é de cerca de 6,142 milhões. Em novembro de 2020, a dívida a fornecedores era de perto de 2,5 milhões (vencidos na sua quase totalidade), e à Segurança Social de um montante superior a 1,7 milhões de euros, contabilizam o Governo”.
O ministro da Economia, Pedro Siza Viera, afirmou ao Público que “o Estado acompanha a Dielmar há mais de uma década”, bem como que “a empresa acumula resultados negativos há 10 anos e, por isso, o Estado foi ao longo dos anos assegurando a capitalização da empresa”.
O Público refere igualmente que «em 2020, segundo o Governo, “foram consideradas esgotadas todas as possibilidades de reestruturar a empresa, ou até mesmo assegurar a sua transição, total ou parcial”».
Siza Viera afirmou ao Público que o Estado «”se calhar não vai recuperar” nada do que ali meteu» e avançou que, «por isso, “o Estado e outros credores terão de fazer um maior esforço possível para assegurar uma solução. Precisamos de salvar empresas, não precisamos de salvar empresários”».
As reações ao pedido de insolvência da Dielmar não se fizeram esperar, nomeadamente dos intervenientes políticos, até porque se está em ano de eleições Autárquicas. Mas também do setor empresarial, com a Câmara do Comércio da Região das Beiras (CCRB) a afirmar que “assistimos com muita preocupação ao fecho de uma empresa que empregava cerca de 300 trabalhadores e com mais de meio século de existência, tornando-se num dos mais empregadores de uma localidade com pouco mais de cinco mil habitantes e emblemática para a Região”.
Por isso não hesita em realçar que é “mais um duro golpe no tecido empresarial do Interior”.
Com base nisso avança que “a falta de meios e de apoios concretos a uma região é de tal forma grave, que outras situações como a desta empresa se podem seguir” e salienta que “entendemos que o tecido empresarial não pode ser deixado à sua sorte e temos o dever de nos unir em prol do interesse comum, o desenvolvimento sustentado do Interior”.
Assegura ainda que “a CCRB, enquanto organismo associativo, procurará sempre ajudar na procura de soluções para o tecido empresarial do Interior”.
Já da parte da candidatura do Partido Socialista (PS) à Câmara de Castelo Branco às eleições Autárquicas de 26 de setembro, é afirmado que “o marasmo atual, de que a situação da Dielmar é mais um exemplo, não pode continuar. É preciso um papel ativo do Município”.
A candidatura adianta que o seu candidato contactou o Governo para o alertar da situação e defende que “logo que seja nomeado um administrador judicial, devem ser analisadas todas as possibilidades de investimento na empresa que possam vir a surgir, que contribuam para viabilização de uma marca histórica do setor da confeção”.
De igual modo é afirmado que “solicitei ao Governo que pudesse ser, também ele, proactivo nessa busca, já que a atual gestão do Município de Castelo Branco não conseguiu assumir esse papel”.
A Concelhia do Partido Social Democrata (PSD) alerta, em comunicado, que “o País, a Região, o Concelho e Alcains correm sérios riscos de perderem uma marca internacional que faz história há 56 anos. Uma marca de referência que muito nos orgulha. Ao longo destes anos a Dielmar tem demonstrado uma grande relevância para a economia local: manteve e criou muitos postos de trabalho, contribuiu para gerar outros negócios diretos e indiretos, projetou Castelo Branco”.
Sublinha que “mais que uma marca a Dielmar tem rostos, tem cerca de 350 pessoas que correm o risco de ficarem desempregadas. As consequências nas vidas de centenas de famílias que daí advêm serão suficientemente graves para todo o Concelho, para a resposta ser a indiferença, ou meras palavras vãs”.
As críticas surgem, “quando ouvimos alguns responsáveis políticos falarem na situação trágica, espanta-nos que o Município de Castelo Branco nunca tenha dado a devida atenção à situação económica da empresa, nem tenha aproveitado parte da produção de máscaras ali realizada, durante a fase de reorganização da produção ocorrida em tempos de pandemia, para as adquirir e poder distribuir à população do Concelho”.
Destaca também que “a nível político, aparentemente, tudo falhou. O Governo e a Câmara Municipal não deram conta da gravidade da situação empresarial da Dielmar, que a pandemia, apenas, agravou. Os trabalhadores e as suas famílias foram desprezados por aqueles que têm responsabilidades políticas executivas”.
Tudo isto leva a Concelhia a concluir que “é profundamente lamentável que o Governo e a Câmara não tenham sido proactivos. Mas será imperdoável que não sejam pelo menos reativos”.
Por seu lado a Direção de Organização Regional de Castelo Branco (DORCB) do Partido Comunista Português (PCP) também manifesta “grande preocupação com as notícias” e frisa que “os mais de 300 trabalhadores da Dielmar, importante empregador da Freguesia de Alcains, Concelho de Castelo Branco foram confrontados com a notícia do pedido de insolvência no momento em que a empresa estava encerrada para férias”.
Para os comunistas, “dada a importância económica e social da empresa, o Governo deve desencadear todos os instrumentos ao seu alcance para impedir o seu encerramento, para assegurar os postos de trabalho e assegurar o cumprimento dos direitos dos trabalhadores”.
Mais à frente pode ler-se que “o PCP sublinha que a empresa recebeu apoios no Lay-off dos trabalhadores, com o Estado a suportar a maior parte dos custos salariais (84 por cento)”.
Para a DORCB “a autarquia de Castelo Branco tem o dever de contribuir de encontrar uma solução para a continuidade da empresa”, argumentando que “no atual quadro de aumento do desemprego, Castelo Branco não oferece alternativas ao emprego e porque seria um crime desperdiçar as altas competências e qualificações das trabalhadoras e trabalhadores da Dielmar”.
O Movimento Castelo Branco Merece Mais “lamenta que tenha solicitada a insolvência da empresa Dielmar neste momento e que este pedido ponha em risco mais de 300 postos de trabalho no Concelho e na vila de Alcains”, acrescentando que “os efeitos do encerramento desta empresa terão um impacto desastroso nos trabalhadores e nas respetivas famílias com a agravante de alguns casais trabalharem ambos na empresa, mas também no comércio local e em geral em toda a atividade económica local e regional. Será uma fator preponderante no agravamento da inclusão social neste concelho”.
Afirma, em comunicado, que “lemos com atenção as notícias veiculadas pela Comunicação Social. A justificação da administração da empresa e a explicação do senhor ministro da Economia. O futuro da empresa está nas mãos dos credores e fundamentalmente nas mãos do Governo”.
Realça, por outro lado, que “quanto à Câmara de Castelo Branco desconhece-se o papel que ela terá tido, tanto de bom, como de mau, para evitar esse fecho. Fica a dúvida se, no quadro de letargia em que sempre se moveu, e move, excedeu a sua influência e a pressão que lhe eram exigidas como defensor maior das pessoas, dos Albicastrenses e do desenvolvimento do Concelho de Castelo Branco”.

04/08/2021
 

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