Edição nº 1703 - 18 de agosto de 2021

Alfredo da Silva Correia
A DIELMAR E DESAFIOS

Fomos confrontados com uma notícia que muito nos entristeceu, a mim de uma forma muito especial, pois há muitos anos que considero a empresa Dielmar como sendo uma grande mais-valia para a nossa região, com especial realce para Alcains, tendo conhecido bem os seus sócios fundadores. De facto, sermos confrontados com a decisão da gerência desta empresa, em pedir a sua insolvência só pode significar que a mesma não encontrou outra alternativa, já que tratando-se de uma empresa familiar tem, na sua história, um profundo significado.
É verdade que era um desfecho que há muito temia pelas notícias que iam chegando e por saber que já há muitos anos, para resistir, tiveram que envolver em tal sociedade, uma outra de capital de risco do Estado, o que terá acabado por ser uma tentativa que permitiu resistir durante alguns anos, mas que acabou agora por soçobrar.
É sem dúvida muito duro para a região perder-se esta mais-valia, com especial realce para os seus trabalhadores e para a família que tanto deve ter lutado para que tal não acontecesse. Não domino a problemática interna da empresa em causa pelo que não poderei fazer avaliações a não ser generalistas e neste âmbito, não posso deixar de apreciar que o sector em que operava era o de fato de homem de qualidade. Acontece, porém, que as modas têm a sua evolução e cada vez mais o fato clássico foi passando, privilegiando-se o prático, não sendo o deste a cultura instalada em tal empresa.
Nesta situação seria necessário, quando tal se sentisse, uma reconversão, o que até pode ter sido tentado pela sua gerência, mas sem êxito, eventualmente também porque é difícil hoje, com as leis que regem o mundo empresarial português, conseguir fazê-lo, também num ambiente em que se é confrontado com sucessivos aumentos do salário mínimo e se tem de concorrer com outros povos que não sujeitam as respectivas empresas a regras tão exigentes.
São realidades não consideradas pelos nossos dirigentes e muito menos por alguns políticos, os quais revelam uma preparação algo deficiente para lidar com estas realidades, razão pela qual somos confrontados com afirmações, por vezes, sem sentido. De facto há, entre eles, quem entenda que o Estado pode tudo resolver, quando assim o não é, já que todas as empresas têm de ter tratamento idêntico, sob pena de se cair em injustiças de monta, o que não é possível numa sociedade equilibrada. Considere-se que infelizmente há hoje muitas empresas em dificuldades no país. Assim, entendo que a muitos dos nossos políticos seria preferível nada dizerem, quando não dominam uma matéria, em vez de fazerem afirmações incorrectas, sobre um problema bem sensível para muitas famílias.
Depois da análise que fiz, não posso deixar de dar o meu contributo para o que julgo se deve tentar fazer para procurar minimizar este enorme problema do nosso concelho, em que tantas famílias vão ter de se adaptar a uma realidade nada fácil.
Assim, perante as possíveis dificuldades em se encontrar um investidor que queira salvar a empresa tal como ela era antes do pedido de insolvência, vamos ser confrontados com os seus trabalhadores e gerentes a terem de ir para o desemprego e com o respectivo subsídio, terão um tempo para tentar uma alternativa. Felizmente para eles sente-se hoje uma certa falta de mão-de-obra em muitos sectores o que pode minimizar o problema daqueles que estiverem disponíveis para esforços de adaptação. Já quanto aos nossos dirigentes governativos a única coisa que poderão e deverão fazer é a de procurar conjugar esforços no sentido de conseguir conceber um projecto que congregue a cultura produtiva e a marca Dielmar, os seus canais de comércio restantes, edifícios e máquinas, que julgo pertencem ao Estado, publicitando esta espécie de estabelecimento, para que seja cedido a quem o quiser assumir, aproveitando esta mais-valia. Esta é a dinâmica normal em qualquer processo de insolvência, podendo ser necessário mais tempo do que o definido em lei para conseguir esta solução, o que deve ser tentado por todos aqueles que se apresentaram a lutar pela salvação da Dielmar. Alguém que sem as responsabilidades actuais da empresa em insolvência seja capaz de por a produzir as mais-valias ainda existentes na mesma. Para o efeito, obviamente, que este novo empresário não deixará de ter de contratar muitos dos seus ex-trabalhadores, que voltariam a ter oportunidades semelhantes ou até melhores às que tinham.
Enfim, o ideal seria conseguir-se um investidor que assumisse a empresa como ela era antes do pedido de insolvência, mas se não for possível deixo esta ideia, na esperança que a minha região não perca totalmente toda a mais-valia que a saudosa Dielmar nela representou durante décadas.
Haverá quem seja capaz de assumir este desafio? Espero que um grupo do ramo não perca a oportunidade de aproveitar os factores produtivos ainda existentes nesta empresa, ainda que o faça sem as responsabilidades que tinha a velha empresa. Vamos ver o que se conseguirá salvar de uma empresa tão importante para a nossa região, como era a DIELMAR.
(Ex-dirigente associativo empresarial)

18/08/2021
 

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