João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
UM ACONTECIMENTO DRAMÁTICO na comunidade ismailita que resultou em duas jovens mulheres assassinadas e outra gravemente ferida, num ataque à faca perpetrado por um refugiado afegão foi o mote para mais uma vez André Ventura mostrar a sua verdadeira face. Não hesitou um segundo em cavalgar o acontecimento, sem parar para pensar. E nas redes sociais, mais uma vez mostrou a sua xenofobia, lembrando que há anos anda a avisar que a entrada de imigrantes numa “política de bandalheira e de portas abertas” haveria de dar nisto. Isto de que ele fala é um crime, infelizmente não muito diferente de tantos outros, nomeadamente em atos de violência doméstica. Sem ter havido tempo para as autoridades saberem as motivações e contornos do tresloucado ato, André Ventura já vê ali um ato terrorista e vê ainda mais, vê sangue inocente nas mãos de António Costa, por ter permitido a entrada no nosso país do refugiado afegão com três filhos menores. Não lhe importou que este ato violento, indesculpável, e que há de ser julgado e seguramente castigado, é um episódio que foge ao padrão de comportamento mais comum entre os refugiados e imigrantes, a quem teremos de dar acompanhamento e apoio na integração na sociedade portuguesa. Não se pode esquecer o crime, como não se podem esquecer as ideias xenófobas de Ventura no dia em que, se Luís Montenegro o permitir, o sonho dele se realize e se torne num ministro da Administração Interna.
AS REDES SOCIAIS E OUTROS MEIOS de comunicação estiveram em polvorosa por estes dias por uma crónica de Alexandre Pais publicada no Correio da Manhã. O veterano jornalista permitiu-se, de uma forma extremamente descortês, abjeta e misógina, comentar o corpo e o vestuário da apresentadora Maria Botelho Moniz. Sobre o assunto escreve a minha amiga Bruna Diogo Santos, com palavras que faço minhas “Se é verdade que se deve apreciar e respeitar o corpo em toda a sua plenitude e fases da vida, não é menos verdade que o que mais encontramos diariamente é a propagação do oposto. Desde as redes sociais à TV, é visível a constante deturpação da realidade, tanto do corpo, como da vida. Propaga-se a ideia de perfeição, enquanto se censura uma curva corporal. Argumenta-se sobre doença mental, mas cultiva-se a semente da sua génese.
Ligamos um telemóvel, e é-nos apresentado tudo o que devemos ser, na perspetiva de que, não só não o somos, como por não o sermos, falhamos. O artigo daquela revista é só uma indicação mais ou menos direta da sociedade. Não se choquem. E especialmente, não caiam na hipocrisia de achar que não sabiam isto tudo”.