Edição nº 1793 - 17 de maio de 2023

Maria de Lurdes Gouveia Barata
CUMPLICIDADES E IRRITAÇÕES

Maio (do latim Maius) foi assim nomeado em homenagem à deusa grega Maya, mãe de Hermes, e identificada na mitologia romana com a deusa da fertilidade Bona Dea, que era celebrada durante este mês. Conhecida em algumas culturas como Gaia, era a deusa ligada à terra e à criação.
Sendo Maio um mês de Primavera – este de 2023 é mais de Verão – tudo na Natureza resplandece em verdes e flores. Diz bem o ditado: Mês de Maio, mês das flores, mês de Maria, mês dos amores. Maio é, na verdade, um mês da mulher. Não admira que se tornasse na religião católica no Mês de Maria. A fé portuguesa foi ainda reforçada por Nossa Senhora de Fátima, que, sendo-se crente ou não crente, teve a força de transformar Portugal num dos mais importantes lugares actuais de peregrinação a nível internacional. Os poetas celebram Maio pela cor da vida que desabrocha em tempo primaveril, pelo amor que se agarra à abóbada azul do céu, seguindo a pujança da Natureza. Dias maiores, anunciando mais tempo de sol e oferecendo mais alegria ao espírito. A serenidade que o ar livre chama. Quem pode não se tornar cúmplice de tudo isto?
No entanto, aparece sempre um mas, e eis-nos perante um Maio deste ano de 2023 com ditados (construídos ao longo de anos e anos e de vidas com a sabedoria do povo) a ser contestados com provas de falta de realização do que se espera de Maio: Águas de regar, de Abril e Maio hão-de ficar – mas fala-se em Portugal de «seca severa» em muitas regiões, as tais alterações climáticas, decerto! Fico um pouco preocupada, quando se diz Abril e Maio, chaves do ano. Que calores virão por aí? Ainda há bem pouco tempo ouvi sobre os efeitos do El Niño para este ano entre Julho e Agosto… Porém, não sou pessimista, nem devemos ser, há que aguardar. Mas acrescento mais provérbios: Maio claro e ventoso, faz o ano rendoso, com equivalente em Abril chuvoso e Maio ventoso fazem o ano formoso – vento ainda houve, mas chuva… Só mais um: Maio chuvoso ou pardo, faz pão vistoso e grado. Aqui os deixo por uma questão de curiosidade…
Assunto de falta de chuva entra no domínio das irritações, porque nos preocupamos. Mas também entra nesse domínio um incidente, pelo insólito do protesto em 7 de Maio deste 2023: um homem atirou o carro contra o vidro das urgências do Hospital de Cascais, após fazer esse aviso nas redes sociais. Ao que tudo indica, Hugo Lopes, o autor, lembrou-se desta forma de  protesto contra a falta de cuidados de saúde. Tinha folhas coladas no vidro do condutor. Num dos papéis era possível ler:  “Saio pacificamente após ver o jipe da GNR no retrovisor. No entanto gostaria de saber a razão de estar a ser sistematicamente discriminado neste hospital? Estou há dois anos e meio a pedir ajuda!”. O homem acrescentaria: “A sanidade mental abandonou-me e isto vai dar porcaria e vou acabar preso”. Justifico esta referência, porque senti o desespero deste ser humano, ao que pode levar esse mesmo desespero e, sobretudo, a causa desse desespero, que, a ser verdade o que foi noticiado, nos confrange pela desigualdade e as falhas da sociedade injusta. Irrita mesmo!
Uma irritação nervosa tive eu, quando deparei com a notícia e a publicidade: PORTUGAL CHEESE FESTIVAL EM ALCAINS! A primeira reacção que tive: «ao que isto chegou!» ISTO é a língua. Alguém com quem comentei, disse: “atenção, há muitos estrangeiros por aqui e a publicidade tem de chegar longe!” De acordo! Mas o que importa é utilizar a língua portuguesa. O cartaz devia registar PORTUGAL FESTIVAL (OU FEIRA OU FESTA) DO QUEIJO e por baixo poderia repetir-se em inglês ou espanhol ou francês ou outras mais línguas. O dito festival decorreu de 5 a 7 de Maio. Dia 5 de Maio é o DIA DA LÍNGUA PORTUGUESA, também designado por Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP - é o dia internacional em que todos os países cuja língua materna é o português (os países lusófonos – Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste) celebram a data. A comemoração deste dia foi criada em Cabo Verde no ano 2009.
O Dia Nacional da Língua Portuguesa, comemorado em 5 de Novembro, foi instituído pela Lei n.º 11.310, de 12 de Junho de 2006. A data foi escolhida em virtude do nascimento de Rui Barbosa (5 de Novembro de 1849), escritor e político brasileiro que se dedicou profundamente ao estudo da língua.
Em Portugal, o dia 10 de Junho, Dia de Portugal e feriado nacional, igualmente é dia de celebração da língua portuguesa. Foi nesse dia que, em 1580, um dos maiores poetas da nossa língua, Luís de Camões, faleceu.
Ponho-me a olhar atentamente para a palavra queijo: o que terá de embirrenta? O ser portuguesa? Que sílaba será a antipática? Será a palavra ferrugenta ou carunchosa? Assim, classificar-se-ia de ruvinhosa. É portuguesa, pronto. Ou então, ao dizer PORTUGAL CHEESE FESTIVAL fica-se logo pronto para a fotografia: cheeeeseeee…
Lembrou-me de repente uma história que a minha avó me contava, decerto anedota: uma aldeã fora viver para a cidade. Uns tempos depois voltou à aldeia, fútil e vaidosa, achando-se mais evoluída e superior. Passou um pastor com algumas cabras pela rua. E ela: “que animais são estes?! Responderam “Cabras”. E ela com voz adocicada: O quê?! Caibras?”
Está ao nível do queijo e do cheese. Que irritação!

17/05/2023
 

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