14 de dezembro de 2016

Antonieta Garcia
O diabo em figura de gente…

Não é boa política falar no Diabo com tanta frequência. Deus do mal, senhor das trevas, turbulento, veste mil peles e vende-se- lhe a alma, por artes que só ele sabe, só ele sabe. Malfazeja foi, por isso, a referência detonada, ao que dizem, pela voz de um líder político: Preparem-se! Vem aí o diabo!
Representação da fatalidade mostram-no vermelho ou/e preto, com chifres, ar satânico, cauda e, na mão, com garras medonhas, uma espécie de cetro indicador de poder. Também já apareceu disfarçado de serpente, sapo, deuses antigos, animais fabulosos… O currículo da personagem, está bem de ver, deixa muito a desejar: chefe de uma rebelião de anjos, para alcançar o trono celestial, foi vencido e expulso dos céus. Mas o saber e fazer infernais gravaram-se- lhe no ADN e, desde então, segundo a vox populi: “Fala-se no diabo e aparece o rabo” ou, em contexto mais politicamente correto, mais seleto, atreve-se: “Fala-se no diabo e o diabo aparece”. Quem quer proximidade com tal criatura?
Falou-se no dito... Consequência? Tem andado por aí em figura de gente. Verdade, verdadinha que, em Portugal, que se veja, nem tem atuado para além do tal alerta destinado a fazer tremer quem de direito. Mas, alegram-se alguns porque afinal o diabo não veio, ninguém o viu; outros apostam que está oculto e, porque português, numa qualquer manhã de nevoeiro há de aparecer. Com a nossa paciência eterna, vamos esperar… Só não sei se outro político, de outra área partidária, viu o demónio, claramente visto, porque calmamente elucidou: O diabo veste PIB… fatiota, de resto, que à imagem do Diabo veste Prada, fica melhor à cor dos olhos do mafarrico, um admirador incondicional de cifrões, pela variedade de incursões malfazejas – e benfazejas, ora essa! - que propicia… A conversa já ia longa, quando outro chefe anuncia: O diabo já lá vai…
Nunca se sabe. Tentador e muito sábio porque é velho, transfigurou-se agora, em objeto de consumo muito solicitado. Mercadoria de entretenimento, foi recuperado até pelos jovens; apresenta-se nas canções Heavy metal, em video-jogos, livros…
Desapareceu, porém, o medo de um demónio aterrorizante e dono de um inferno de penas e tormentos? Não sei… A maioria torce o nariz, se o pressente… mas também há quem, lá no fundo, espere a sua colaboração para perversões inconfessáveis. Ambivalente, o malandro, é pau-mandado de muita gente que o traz sempre a tiracolo. Cada um tem o diabo que merece?
De diabos sabia Gil Vicente. Escolhemos os do Auto da Lusitania. Duas personagens, Todo o Mundo, um mercador rico, e Ninguém, um homem pobre, dialogam frente a dois diabos:
Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo e meu tempo todo inteiro / sempre é buscar dinheiro…
Ninguém: Eu hei nome Ninguém, e busco a consciência.
Atento, Belzebu manda registar ao parceiro, Dinato: Ninguém busca consciência e Todo o Mundo dinheiro.
Exagero? Claro que sim. A maioria, por certo, gostaria de ser gente boa e ter simultaneamente uns troquitos. Não fosse o poder do Patilhas, Tinhoso, Belzebu, Lúcifer… tantos os nomes, quantas as crenças no seu poder e fazer, e a conjugação do verbo amar teria presente e futuro. Conhecedores dos meandros do humano, os demos sabem como semear tentações. Com um poder imenso, às vezes, reencarnam hitleres ou kim jongs, ou trumps… ou assim, e fazem-se lideres do mundo submetido à lei do lucro. É a sua luta.
O cenário vira inferno. Existe. Diz o povo que “Quando se declara a guerra, o diabo alarga o inferno.” E a guerra está declarada. Num dos países mais poderosos do mundo, um Diabo viu-se ao espelho: teatral, trauliteiro rico, trapaceiro, misógino e xenófobo vestiu-se de palavras aziagas, que sufocam…Soltam-se para dizer a construção de muros, de vedações para separar povos, semear o ódio ao Outro, desprezar mulheres... Onde anda a luz do sol?
P.S. - Ah! Que é do diabrete nacional? Deve ter-se assustado! Tentou a novela da Caixa. Encaixou-se mal. Não há quem ature tanto episódio sem asa… Por certo, debandou para outras paragens em busca de novo diabo à perna.

14/12/2016
 

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