Edição nº 1909 -27 de agosto de 2025

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

PASSA POR ESTAS SEMANAS nos canais de televisão, o anúncio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) a celebrar a excentricidade, mais uma, que se permite quem ganha o Euromilhões. Neste caso, é o homem das Bolas de Berlim na praia, transplantado pelo feliz recém-excêntrico milionário para as Maldivas. Não se questionando a qualidade técnica do spot publicitário, que terá certamente uma grande eficácia junto do potencial consumidor, já aqui o escrevi e volto a fazê-lo, uma instituição como a SCML, que exerce reconhecidas funções de solidariedade social, não deveria em nome do lucro máximo usar a excentricidade como manifestação do egoísmo ou do egocentrismo. Seria interessante conhecer a eficácia de um anúncio, onde a excentricidade passasse pela intervenção solidária na comunidade, em querer tornar as pessoas felizes.
E não seria um caso único, lembramos os impactantes anúncios de Natal das operadoras de telecomunicações e de algumas grandes distribuidoras. Sabemos que procuram o lucro (e que lucro…) mas também sabem apelar ao que de melhor temos, à solidariedade, melhorando a imagem da marca junto dos consumidores.
Tudo isto vem a propósito dos 30 anos da Raspadinha, marcados pela realização de um estudo sobre o perfil dos seus consumidores e níveis de doença associadas a este tipo de jogo. Encomendado há já algum tempo pelo Conselho Económico e Social, foi coordenado pelo psiquiatra e investigador da Universidade do Minho Pedro Morgado e o economista Luís Aguiar-Conraria. Este é o jogo social mais lucrativo da SCML, 1.848 milhões de euros, cerca de 60 por cento do total dos lucros da instituição. Somos o país europeu onde a raspadinha tem, em percentagem, mais consumidores, com a particularidade de os jogadores serem, em parte significativa, pessoas com alguma fragilidade económica. Cerca de 100 mil terão problemas relacionados com o vício do jogo e cada vez mais, há quem peça ajuda.
Os coordenadores dizem que quando o estudo foi apresentado à provedora Ana Jorge, ela demonstrou uma grande sensibilidade e preocupação social com o tema do jogo patológico e anunciou, na altura, uma série de medidas com a intenção de sensibilizar para o jogo responsável. Mas das medidas que atualmente estão em curso, nenhuma diz respeito especificamente às raspadinhas.
A nova direção parece mais preocupada com os lucros, mas promete o lançamento do cartão de jogador, com acesso à informação sobre o dinheiro que já perderam neste jogo. A ver vamos, mas não nos parece que isso seja suficientemente eficaz, para combater o jogo compulsivo que gera graves consequências sociais.

27/08/2025
 

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