Edição nº 1912 - 17 de setembro de 2025

Lopes Marcelo
CIDADANIA ALBICASTRENSE

Como foi do domínio público, a meados do passado mês de julho, a Junta de Freguesia reconheceu o meu contributo para uma activa cidadania albicastrense, tendo para tal também contribuído as quase três centenas de crónicas deste nosso Mosaico Cultural. Aqui partilho as palavras que então proferi.
Nas últimas décadas, à medida em que fui subindo a montanha da vida, aprendi a valorizar cada vez mais a memória, procurando contribuir para estudar, resgatar e partilhar a memória das nossas comunidades, a sua história, os usos e costumes que considero condição de autenticidade na valorização da nossa Identidade Cultural. Enaltecer a memória colectiva constitui o vector essencial de se viver a modernidade em diálogo com as raízes, o que implica: participação cívica e cidadania cultural; empenho no progresso com alma, dignificando de onde viemos e quem somos e a valorização da memória como condição de liberdade informada, lugar de encontro e reflexão; em contraponto com a vertigem, a aceleração do nosso tempo na ânsia de ter, de consumir e de se obterem recompensas fáceis, imediatas. Memória colectiva em contraponto com a ânsia individual de poder, de se ganhar influência em intriga competitiva;
Parto da memória individual, base do equilíbrio da personalidade, para a memória colectiva como herança cultural, fundamento da solidariedade, âncora do sentimento de fraternidade e entreajuda em que todos somos necessários.
De facto, cada pessoa só por si, vale pouco. Nenhum homem é uma ilha é o título do seguinte poema de John Doune, com versão em português de Carlos Mendonça Lopes, que aqui partilho: “Nenhum homem é uma ilha/ Suficiente por si mesmo./Cada um é um pedaço do continente/ Uma parte do todo. /Se um torrão for arrastado para o mar/ A Europa não o é menos./ Tal como se um promontório o fosse/ Bem como se a tua própria casa/ Ou a de teus amigos o fosse./ A morte de cada homem diminui-me/ Pois sou parte da humanidade./ Portanto não procures saber/ Por quem o sino toca/Ele toca por ti.”
Estamos todos ligados por laços e nós, mãos amigas abertas em disponibilidade generosa. Âncoras de afectos e de partilha nas atribulações do caminho da vida. Na expressão feliz do Filósofo Eduardo Lourenço são as nossas pedras brancas que ficam a assinalar o caminho, que nos recordam de onde viemos, quem somos e para onde queremos ir.
Vou falar-vos das minhas pedras brancas, afinal as pessoas que mais me marcaram pelo seu exemplo e pela sua postura de partilha generosa. E foram, são muitas, contudo, vou referir os que já não estão entre nós. Faço-o em reconhecida homenagem e com sentida saudade.
Em primeiro lugar, as pessoas mais idosas com quem convivo desde a minha infância e juventude na minha aldeia que, alguns sem saberem ler nem escrever, são sábios de valores, de afectos, de saberes-fazer, de usos e costumes de rica oralidade, generosos na partilha, sempre de porta aberta. Saberes, alfabetos funcionais que tenho procurado salvaguardar em alguns dos meus livros.
Em termos de vida cívica e democrática, a dimensão de serviço de um dos primeiros Presidentes de Junta da minha terra, Sr. Manuel Landeiro Lopes. Aqui na nossa cidade, o primeiro Presidente da Câmara Albicastrense eleito, o dedicado Dr. Armindo Ramos. Autarca em Vila velha de Ródão, mas com visão estratégica para a nossa região, o Inspector Baptista Martins, e cá temos a ADRACES por ele sonhada. Com toda a vida dedicada à luta pela liberdade o Dr. Luís Pinto Garcia e o Dr. Manuel João Vieira. Pela sua permanente atitude de partilha, o Dr. Joaquim Martins, responsável por eu ter iniciado há mais de duas décadas este nosso Mosaico Cultural de crónicas mensais. Lutador pela liberdade, o empresário Eng. Joaquim Conceição Lopes.
Em termos culturais, do meu tempo de Liceu, o Cónego Anacleto Martins que me chamou à primeira colaboração com O Reconquista numa página de jovens. O Mestre Manuel Cargaleiro em longo convívio iniciado pela mão do Inspector Baptista Martins; o Professor António Frade, mestre-escola tão generosamente comprometido com a nossa cidade, em longo convívio favorecido por razões familiares. O poeta maior albicastrense António Salvado que, no recato da intimidade poética, sempre me incentivava a publicar. Na vertente do teatro, a iniciação nos tempos de estudante em Lisboa na Casa da Comédia- Clube de Teatro para toda a Experiência Cénica- no convívio com a grande atriz Carmen Dolores e o encenador Jorge Listopad, influência que frutificou nos vários grupos de teatro que ajudei a criar em Castelo Branco, designadamente, o actual Vaatão – Teatro de Castelo Branco. No âmbito da Orquestra Típica Albicastrense, o dedicado regionalista e etnomusicólogo Sr. António Salvado Pereira, líder do Cancioneiro da Beira Baixa.
No Clube de Castelo Branco, a disponibilidade dos parceiros dirigentes Sr. José Sequeira e Sr. Arnel Afonso.
Na Sociedade dos Amigos do Museu Francisco Tavares Proença júnior, a dedicação da Drª. Benedita Duque Vieira.
Com o caminho assinalado por tão ricas pedras brancas, podemos compreender que não foi difícil nem de grande mérito o meu caminhar. O mais importante é sentir, enquanto estamos a remar no barco das acções e projectos com dedicada determinação, termos a serena certeza interior de que vale a pena prosseguir de cabeça levantada e, de coração confortado, chegar a bom porto – sem pensar se nos esperam gratificações ou agradecimentos, palmas ou quaisquer outras benfeitorias.
Cada comunidade, a nossa Cidade, é um organismo vivo. O seu progresso com memória e identidade implica a valorização da cidadania pela herança cultural, por medidas de política visando o bem comum, o empenho de todos na valorização dos direitos humanos, sociais e culturais de forma inclusiva e solidária.
Termino com um voto essencial: saibamos pela disponibilidade e participação construir uma feliz cidade.

17/09/2025
 

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